Entre os principais nomes do samba atual, Moacyr Luz lança álbum ‘Natureza e Fé’
rio de janeiro Em 1988, Moacyr Luz realizou seu primeiro disco, com belas canções, mas sem gravadora nem dinheiro. Permaneceu um compositor pouco conhecido. Trinta anos depois e aos 60 de vida, o carioca lança o CD “Natureza e Fé” estando firme entre os principais nomes do samba na atualidade.
Além de ser coautor de dois sucessos de Zeca Pagodinho (“Vida da Minha Vida” e “Toda Hora”), ele tem hoje o reconhecimento de grandes sambistas. Martinho da Vila e Jorge Aragão participam do CD como parceiros de Luz.
Nem sempre foi assim. Sem um passado ligado ao samba e tendo como maior sucesso um tema romântico de novela (“Coração do Agreste”, de “Tieta”), recebeu olhares tortos quando resolveu se dedicar prioritariamente ao gênero, nos anos 1990. “Estou me sentindo na melhor fase da minha vida. E acho que mereço. Trabalhei muito, quebrei muita pedra nestes 40 anos”, diz.
Luz evita transparecer ressentimentos ou autocomiseração. Não gosta de falar de seu problema de saúde, o Mal de Parkinson, nem trabalha menos por isso.
Há 13 anos, comanda o Samba do Trabalhador, roda que, ironicamente, acontece toda segunda-feira no clube Renascença, no Andaraí, zona norte do Rio.
Chega a ter mil pagantes. O sucesso do evento fez Luz encarnar o que se imagina ser o “típico carioca”. Contribuiu ele ter escrito dois livros sobre botequins, em 2005 e 2008. Arriscou-se a virar uma figura folclórica.
“Aconteceu o mesmo com o [cartunista] Jaguar, que é um gênio. Eu não me atenho muito a isso, vou fazendo as coisas”, afirma ele, que também está lançando um livro de crônicas, “O Rio do Moa”.
Resolveu há alguns anos se envolver com sambas-enredo. No Carnaval de 2018, foi um dos autores do samba que levou a pequena Paraíso do Tuiuti ao vice-campeonato.
Ao parar de compor com Aldir Blanc, seu parceiro mais constante, tomou coragem para escrever. É o que tem feito com maior frequência. Das 12 faixas de “Natureza e Fé”, oito têm, pelo menos, alguns versos dele.
Duas músicas do repertório são parcerias com alguém nada associado ao samba: Fagner. O artista cearense faz duo em “Samba em Vão”.
“Nós nos encontramos por acaso no supermercado. Nunca tínhamos conversado. Tomamos duas garrafas de vinho e decidimos compor. Já fizemos dez”, conta.
Ele incluiu no CD “Jorge da Cavalaria”, criação com seu primeiro parceiro, Serjão; “Conto de Fadas”, inédita com Luiz Carlos da Vila (19492008); e “Chapéu Panamá”, inédita com Wilson das Neves (1936-2017) e Mestre Trambique (1945-2016).
Na ala dos parceiros mais novos do que ele estão Hamilton de Holanda, Pretinho da Serrinha e Fred Camacho, além de Teresa Cristina e Zélia Duncan.
Natureza e Fé
Moacyr Luz. Gravadora: Biscoito Fino. R$ 31,90 (CD)
O Rio do Moa
Moacyr Luz. Ed. Mórula. R$ 35 (136 págs.)