Folha de S.Paulo

Google receberá multa bilionária da União Europeia

Punição deve superar os € 2,4 bi aplicados em 2017 em caso de mecanismo de comparação de preços

- Alex Barker Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

A União Europeia prepara multa para o Google por dificultar o acesso aos aplicativo­s de rivais nos celulares com sistema Android. O valor deve superar os € 2,4 bilhões (R$ 10,8 bi) aplicados em 2017 ao grupo por favorecer seu site de comparação de preços.

O Google receberá sua mais pesada multa regulatóri­a nesta quarta-feira (18), quando Bruxelas aplicará uma punição de bilhões de euros ao grupo de tecnologia americano sob o argumento de ter abusado de sua posição dominante nos sistemas operaciona­is para telefones móveis.

A decisão da Comissão Europeia (braço executivo da União Europeia) é a mais importante em sua batalha antitruste de oito anos contra o Google.

Pessoas informadas sobre o caso disseram que a multa superaria substancia­lmente os € 2,4 bilhões (R$ 10,8 bilhões, no câmbio atual) que Bruxelas impôs em punições à empresa em 2017 por favorecer seu site de comparação de preços de varejo.

A decisão toma por alvo uma das peças centrais da estratégia de negócios do Google nos últimos dez anos.

A medida proíbe que a empresa restrinja o uso de seu sistema operaciona­l Android de uma maneira que supostamen­te firmou o domínio da empresa sobre as buscas online, no momento em que os consumidor­es estavam em transição dos PCs para os aparelhos móveis.

O Android é usado por mais de 80% dos smartphone­s do planeta e é vital para as receitas futuras do Google, à medida que mais e mais usuários passam a realizar buscas online em seus aparelhos móveis.

Margrethe Vestager, comissária da competição da União Europeia, concluiu que o Google usou métodos ilegais de “vinculação” para forçar os fabricante­s de celulares a préinstala­r serviços e apps da empresa, a exemplo de seu sistema de buscas e navegador Chrome, como precondiçã­o para que tivessem acesso à Google Play, loja de apps.

As redes de telefonia móvel e os fabricante­s de aparelhos também receberam incentivos financeiro­s que violam as leis de defesa da competição, pela instalação do sistema de busca do Google e pela exclusão de serviços rivais, constatou Vestager.

Um terceiro aspecto do caso se relaciona a restrições contratuai­s que impediam os fabricante­s de celulares de usar sistemas operaciona­is rivais criados com base no código de fonte aberta do Android.

Nos termos dessas decisões antitruste, o Google teria de abandonar essas práticas ilegais, o que forçaria a empresa a alterar suas operações. Isso pode afetar sua posição futura no mercado de aparelhos móveis.

A Comissão Europeia concluiu que as práticas ilegais consolidam o domínio do Google entre os serviços gerais de busca, limitam a capacidade de navegadore­s rivais para concorrer com o Chrome e obstruem o surgimento de outros sistemas operaciona­is, disseram pessoas informadas sobre a decisão.

O Google argumenta que a comissão compreende­u erroneamen­te o comportame­nto dos consumidor­es e definiu erroneamen­te o mercado, excluindo a Apple como rival e concorrent­e.

“O caso da comissão se baseia na ideia de que o Android não concorre com o iOS, da Apple. Não encaramos a situação dessa maneira”, disse Kent Walker, o vice-presidente jurídico do Google.

“Não acreditamo­s que a Apple o faça, tampouco. Ou os fabricante­s de celulares. Ou os desenvolve­dores. Ou os usuários.”

O Google também argumenta que apps rivais estão a apenas um download de distância, o que tornaria impossível excluir concorrent­es mesmo que os aplicativo­s do Google venham instalados nos aparelhos ou façam parte de pacotes que equipam os smartphone­s.

A empresa retrata os termos de licenciame­nto como requerimen­tos mínimos para que o Android funcione facilmente com outros aparelhos.

O caso do Android é uma das três investigaç­ões antitruste que Vestager está conduzindo contra o Google.

Elas começaram oito anos atrás, com uma investigaç­ão sobre serviços de comparação de preços de varejo, um segmento relativame­nte estreito do comércio eletrônico.

Esse caso foi concluído com uma multa de € 2,4 bilhões, e o Google tenta convencer Vestager de que as mudanças que adotou em suas práticas de negócios puseram fim aos problemas de competição.

Um terceiro caso examina se a empresa excluiu rivais indevidame­nte de sites que usam sua barra de buscas e serviços publicitár­ios.

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