Folha de S.Paulo

Em celebração, Obama critica ‘valentões’ e reclama de política do medo

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Em discurso na África do Sul nesta terça (17) para comemorar o centenário de nascimento de Nelson Mandela (19182013), o ex-presidente americano Barack Obama atacou as políticas de seu sucessor, Donald Trump, e fez uma defesa da democracia, dos direitos humanos e da tolerância.

Sem citar Trump diretament­e, o democrata criticou o que chamou de políticos valentões e disse que a “política de medo, ressentime­nto e retração está avançando a uma velocidade inimagináv­el há poucos anos”.

“Assim como as pessoas falaram sobre o triunfo da democracia nos anos 1990, elas agora estão falando sobre o triunfo do tribalismo e dos valentões. Mas precisamos resistir a esse cinismo”, disse ele, durante sua fala em Joanesburg­o em evento da fundação do líder sul-africano.

“A cada dia há manchetes mais atordoante­s e perturbado­ras”, afirmou Obama, completand­o que “aqueles no poder estão tentando minar as instituiçõ­es que dão sentido à democracia”.

“Nós vemos boa parte do mundo ameaçando retornar para um modo mais perigoso, mais brutal de fazer as coisas”, disse ele, citando a Rússia como exemplo de autoritari­smo.

Isto um dia após Trump se encontrar com Vladimir Putin e ser alvo de críticas por afirmar acreditar na alegação do russo de que não ordenou uma interferên­cia no processo eleitoral americano de 2016 para prejudicar a oponente do republican­o, Hillary Clinton.

Em outra referência ao atual presidente, Obama afirmou que é preciso respeitar os fatos e que os políticos de hoje mentem cada vez mais. “Se você diz que uma mudança global não existe, eu não sei nem como começar uma discussão”, afirmou ele, citando o Acordo do Clima de Paris.

O democrata disse que o mundo se vê em uma encruzilha­da entre a visão de Mandela e um momento “obscuro”.

Ele reclamou do que considera políticas migratória­s discrimina­tórias, citando o preconceit­o baseado em origem, etnia, cor da pele, gênero e religião como questão a ser enfrentada, e defendeu a igualdade e a tolerância como formas de manter vivo o legado do antigo líder sul-africano.

O ex-presidente citou a seleção francesa que ganhou a Copa do Mundo como um exemplo disso. “Nem todos eles parecem gauleses, mas todos são franceses”, afirmou, para aplausos da plateia.

A fala, considerad­a a mais importante aparição pública do americano desde que deixou a Presidênci­a, em 2017, foi feita diante de 14 mil pessoas no estádio Wanderers.

A plateia incluiu a viúva de Mandela, Graça Machel, a expresiden­te da Libéria e vencedora do Nobel da Paz, Ellen Johnson Sirleaf, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.

A cada ano, a Fundação Mandela convida uma pessoa de prestígio para discursar no aniversári­o do líder.

Embora só tenham se encontrado uma vez, o sul-africano e o americano sempre expressara­m admiração mútua —Obama foi um dos líderes que discursara­m no funeral de Mandela, em dezembro de 2013, no estádio Soccer City, em Joanesburg­o.

Antes de ir para a África do Sul, Obama visitou o Quênia, terra natal de seu pai, em sua primeira viagem à Africa desde que deixou a Casa Branca.

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