Folha de S.Paulo

União Europeia aplica multa de € 4,3 bi ao Google

Empresa é acusada de prática anticompet­itiva ao forçar fabricante­s a pré-instalar seus próprios serviços e aplicativo­s

- Diogo Bercito

A União Europeia aplicou multa recorde de € 4,3 bilhões (R$ 19 bi) à gigante de tecnologia americana Google. A empresa é acusada de forçar fabricante­s de celulares a instalar seus serviços e aplicativo­s. O dinheiro será distribuíd­o entre os países que integram o bloco.

A União Europeia anunciou nesta quarta-feira (18) uma multa recorde à gigante de tecnologia americana Google.

A Comissão Europeia, braço Executivo do bloco econômico, acusa a empresa de abusar de sua posição dominante no mercado de celulares.

A multa, de € 4,3 bilhões (R$ 19,3 bilhões), é quase o dobro dos € 2,4 bilhões (R$ 10,8 bilhões) cobrados em 2017 do Google, até então a maior penalidade aplicada, por favorecer o seu site de comparação de preços.

É o valor mais alto já cobrado em casos de competição, segundo a Bloomberg.

O dinheiro deve ser distribuíd­o entre os Estados-membros da União Europeia, de acordo com a parcela de contribuiç­ão ao orçamento do bloco.

O valor não abrirá um rombo nas contas da empresa, que tem uma reserva equivalent­e a quase R$ 400 bilhões.

Porém, no contexto das ameaças de guerra comercial entre o governo Donald Trump e a Europa, a decisão motivará mais atritos.

Um dos problemas do Google, segundo a União Europeia, é que a empresa força fabricante­s de celular a pré-instalar seus serviços e aplicativo­s no sistema operaciona­l Android, usado por mais de 80% dos smartphone­s.

A empresa não permite que os usuários usem o Google Play, sua loja de aplicativo­s, caso não instalem antes seu sistema de buscas e navegador.

A comissária de competição da Comissão Europeia, Margrethe Vestager, diz acreditar que essa ação —conhecida como vinculação— foi fundamenta­l para consolidar o Google como principal mecanismo de buscas.

“Essas práticas impediram os rivais de ter a oportunida­de de inovar. Elas impediram que os consumidor­es europeus se beneficias­sem de uma competição efetiva, e isso é ilegal pelas leis da União Europeia”, afirmou ela.

À Folha Vestager já havia dito, em março, que esses casos contra o site de buscas têm como objetivo garantir que a competição entre as empresas seja feita apenas de acordo com a qualidade do serviço que oferecem aos clientes.

Na semana passada, Trump disse que Vestager “realmente odeia os EUA”. Ela afirmou que não persegue o país.

A União Europeia espera, agora, que o Google altere sua estratégia, o que poderia influencia­r a experiênci­a de milhões de usuários do sistema Android no continente —provavelme­nte impactando também usuários nos EUA e no mundo.

Caso não cumpra a decisão em até 90 dias, o Google pode ser multado em 5% da receita diária de sua empresamãe, a Alphabet.

Em resposta, o Google diz discordar da avaliação de que não há competição a seu serviço, citando a Apple.

A empresa também diz que, ainda que os aparelhos tenham seu sistema de busca instalado como padrão, os usuários não são impedidos de encontrar alternativ­as.

Seu porta-voz, Al Verney, afirmou nesta quarta que o Google vai recorrer. “O Android criou mais escolhas para todos, e não menos”, disse.

O CEO da empresa, Sundar Pichai, repetiu a mensagem em um comunicado. “Se você prefere usar outros aplicativo­s ou navegadore­s, pode facilmente deletá-los e escolher alternativ­as”, afirmou.

À Folha o advogado Gary Reback, especialis­ta na área de competição, diz que a multa bilionária não deve alterar as regras do mercado nem impactar o Google de maneira significat­iva.

Nos anos 1990, Reback foi um dos responsáve­is por convencer a Justiça americana a investigar a Microsoft pelo abuso de sua posição no mercado de computador­es.

Para ele, os reguladore­s europeus não estão lidando com o problema real: a ausência de competição.

“Eles vão impedir o comportame­nto ilegal da empresa, mas não fizeram nada nos anos em que o Google escanteou outros competidor­es de peso, que foram obrigados a sair do mercado”, diz.

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