Folha de S.Paulo

Nada será como antes

- Bruno Boghossian

brasília Vitorioso ou derrotado na eleição, o PSDB precisará aprender a desempenha­r uma função diferente na cena política a partir de 2019. Após décadas de protagonis­mo, a sigla deve deixar as urnas desfigurad­as e possivelme­nte enfraqueci­da.

A estagnação de Geraldo Alckmin nas pesquisas afastou potenciais aliados e tornou evidente que os tucanos deixaram de ser um polo gravitacio­nal incontestá­vel. Os caminhos para revigorar sua candidatur­a são escassos —e todos envolvem alianças com partidos que devem cobrar faturas altas no futuro.

O bloco liderado por DEM e PP é a aposta final de Alckmin. A adesão dessas legendas a sua campanha ainda é considerad­a incerta e, caso se concretize, será tardia.

Se ganhar a eleição, o tucano precisará dar crédito consideráv­el às siglas que emprestara­m suas máquinas políticas para fazê-lo renascer das cinzas na última hora. Num eventual governo Alckmin, o centrão será sócio majoritári­o, e o PSDB ficará a reboque desse grupo no Congresso.

A perspectiv­a de derrota, além de parecer mais provável hoje, tem consequênc­ias dramáticas. Depreciada, a grife tucana deve ter mais dificuldad­es do que no passado para se reerguer caso fracasse na corrida.

Abatido em 2002, 2006, 2010 e 2014, o PSDB conseguiu preservar certo protagonis­mo político na oposição, mas o ciclo parece ter chegado ao fim. Se perder a eleição, o tucanato precisará se acotovelar com os profission­ais do centrão —seja para aderir ao novo governo, seja para formar o novo bloco de oposição.

A deterioraç­ão do PSDB com a corrupção revelada pela Lava Jato, as divisões internas e a redução do peso nacional do partido ameaçam tornálo uma sigla indistinta das demais.

Os tucanos se organizam há anos em torno de uma fila de presidenci­áveis que acreditam ter cadeira cativa nos altares da política. Faltou ensaiar para um papel menos pretensios­o. Como observou o colunista Celso Rocha de Barros, “se o PSDB perder essa eleição, há chances razoáveis de o partido acabar”.

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