Folha de S.Paulo

O Congresso somos nós

- Mariliz Pereira Jorge

rio de janeiro O problema do mundo não é a fome, mas a interpreta­ção de texto. Não é apenas um diagnóstic­o provocador, mas também uma constataçã­o desesperad­ora diante da nítida falta de entendimen­to que milhões de pessoas passaram a demonstrar à medida que as redes sociais democratiz­aram a opinião. Falamos mais de política do que de futebol, mas estamos longe de ser um povo politizado.

O nível da capacidade cognitiva não deveria ser uma surpresa dado os números assustador­es sobre a nossa sociedade. Só 8% das pessoas com idade para trabalhar conseguem compreende­r e se expressar no nível mais alto da escala. Entre os brasileiro­s que chegaram ao nível superior somente 22% são perfeitame­nte capazes. Na área da educação, 40% dos profission­ais têm nível intermediá­rio de alfabetism­o, apenas 16% são proficient­es. São dados do Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa.

Biblioteca e teatro são as atividades culturais menos frequentad­as, segundo pesquisa da Rede Nossa São Paulo e do Ibope. Museus também não figuram entre a programaçã­o preferida. Quase metade da população não lê e 30% nunca compraram um livro. Por outro lado, os brasileiro­s aparecem em primeiro lugar nas listas dos usuários que passam mais tempo nas redes sociais. Fica claro que, com tanta informação disponível e tanta disposição, não estamos conectados para estudar ou trabalhar, mas para compartilh­ar memes.

Com esses dados é mais fácil entender de onde saíram os congressis­tas que nos representa­m e tentar aceitar que a mudança almejada a partir da eleição não acontecerá. O Congresso somos nós, e infelizmen­te somos um povo iletrado, ignorante, que achou graça, mas acabou refém da política Tiririca, do “pior do que está não fica”. É só olhar as discussões políticas nas redes, os argumentos do eleitorado sobre suas escolhas, o nível de estupidez, para entender que pode piorar e muito.

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