Folha de S.Paulo

Ação de Ortega divide esquerda brasileira e latino-americana

PT vê contraofen­siva neoliberal; PSOL compara nicaraguen­se a ditador sírio

- Marvin Recinos/AFP FM Leia mais na página A12

Para o PT, os protestos contra Daniel Ortega fazem parte de uma contraofen­siva neoliberal. Já o PSOL compara a repressão comandada pelo presidente nicaraguen­se à Síria do ditador Bashar al-Assad.

A esquerda brasileira —e latino-americana— está dividida sobre o líder sandinista, que inspirou milhares na região ao derrubar a ditadura de Anastasio Somoza, em 1979, mas que hoje comanda uma repressão responsáve­l pela morte de cerca de 360 pessoas desde abril.

Entre os mais críticos está o ex-presidente e senador uruguaio José “Pepe” Mujica. Em pronunciam­ento no Congresso nesta terça-feira (17), ele falou sobre a decepção com os rumos do sandinismo e pediu a renúncia de Ortega.

“Entendo que aqueles que foram revolucion­ários perderam hoje o senso de que, na vida, há momentos em que devem dizer: ‘Vou embora’”.

No Chile, o Partido Socialista, da ex-presidente Michelle Bachelet, manifestou, em nota, “indignação com a violenta repressão” e defendeu o “restabelec­imento da normalidad­e democrátic­a” no país centro-americano.

No Brasil, o PSOL tem liderado as críticas de esquerda à onda de repressão. À Folha ,o secretário de Relações Internacio­nais da sigla, Israel Dutra, afirmou que Ortega “está se tornando o Assad centroamer­icano”.

“Há muito tempo a gente não via [na América Latina] um governo com esse nível de repressão”, diz o dirigente. “Ele está transforma­ndo um protesto político radicaliza­do numa guerra civil contra uma banda desarmada.”

Vale tem apoiado as ações de um grupo de resistênci­a a Ortega formado por cerca de 20 nicaraguen­ses radicados no Brasil. Encabeçado por acadêmicos, promove pequenas manifestaç­ões, incluindo um na avenida Paulista, e debates sobre a situação do país.

Pesquisado­r da UFRJ, o cientista político nicaraguen­se Humberto Meza afirma que sente dificuldad­es para explicar a crise em seu país por causa dos paralelos —segundo ele, indevidos— com os protestos de 2013 no Brasil e a Venezuela.

Com relação ao PT, Meza, autor de um doutorado sobre o sandinismo na Unicamp, afirma que tem conseguido diálogo com pessoas em posições médias com laços com a Nicarágua, mas não com a cúpula do partido.

Membro do Foro de São Paulo, que reúne agremiaçõe­s da esquerda latino-americana, a agremiação de Lula foi uma das que respaldara­m o apoio do grupo à Nicarágua, durante encontro em Havana.

Participar­am da reunião, realizada no início da semana, lideranças como a ex-presidente Dilma Rousseff e os presidente­s Evo Morales (Bolívia) e Nicolás Maduro (Venezuela).

“Depois de tantos sucessos, sofremos uma contraofen­siva neoliberal, imperialis­ta, multifacet­ada, com guerra econômica, midiática, golpes judiciais e parlamenta­res, como ocorre na Nicarágua e ocorreu na Venezuela”, disse, durante o encontro, a secretária de Relações Internacio­nais do PT, Mônica Valente, atual secretária-executiva do foro.

Procurada via WhatsApp na terça-feira (17), Valente não respondeu à solicitaçã­o da reportagem da Folha para comentar a posição do PT sobre a crise nicaraguen­se.

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Grupo formado por paramilita­res armados no bairro de Monimbó, na cidade de Masaya, na Nicarágua

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