Canudinho é reciclável, plástico não faz mal à saúde
Para o presidente da Abiplast e da Fiesp, o produto ajudou a reduzir o lixo, mas tem sido alvo de campanhas e estudos sem embasamento
Há muitas notícias falsas e estudos sem embasamento que levaram à má fama do plástico, segundo José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da Abiplast, associação que representa a indústria dos transformados plásticos.
No momento em que vários países e empresas estão abandonando o uso dos canudinhos para evitar danos ambientais, ele diz que esse e outros descartáveis representam uma parcela mínima do consumo.
“Esse barulho todo é canudinho e copo, que não dão 2%. Às vezes um cara pega o negócio de canudinho, tem uma baleia lá, põe os canudinhos na boca dela”, diz.
O empresário minimiza o impacto da ingestão do plástico pelo ser humano, diante de pesquisas que encontraram microplásticos até mesmo na água da torneira.
“Plástico é hidrogênio e carbono. O stent [tubo usado em procedimento médico], a prótese, tudo é feito de plástico, isso não faz mal nenhum ao ser humano”, afirma.
A indústria tem buscado alternativas sustentáveis como o desenvolvimento de embalagens mais finas, com menos matéria-prima. A mudança, porém, não é imediata, diz.
“Meu sonho é comer o alimento e a embalagem, que nem sorvete e casquinha. Mas não existe. Estamos sendo desafiados, isso move a cadeia.”
O plástico se tornou alvo de campanhas de ambientalis-
tas. Como isso afeta a indústria?
O plástico é aproveitado em todos segmentos da economia; 80% requerem larga duração.
Na construção civil, se puder durar a eternidade, melhor ainda. Para o plástico de utilização rápida, o ideal é que seja reciclado. Isso requer educação, coleta adequada, desenvolvimento de mercados para o plástico reciclável.
É um produto novo, que aumentou sua participação rapidamente nos últimos anos. E por quê? Porque é barato e traz benefício grande. Graças ao plástico, há menos lixo hoje, há produtos mais baratos.
Como assim tem menos lixo?
É um produto leve e resistente. A embalagem de feijão, por exemplo. Em um mundo sem plástico, você usaria papel, que tem espessura maior, que rasga.
Existe uma conta, feita por empresas especializadas, de que caso não existisse o plástico, o volume de lixo gerado seria três vezes maior, porque seriam usados outros materiais.
A parte da indústria tem sido feita?
Sim. Tem pressão do consumidor e das empresas.
Esse esforço é suficiente?
Sim, mas isso não é feito de uma hora para a outra. Tem também pressão das pessoas por produtos mais cômodos, embalagens individuais.
As duas. Vai depender muito da educação do consumidor.
Qual pressão é mais forte? Colocar na conta do consumidor não é se livrar do problema?
Não. Vou te dar um exemplo fácil. Se vai em comunidade com menos educação, o lixo está à vista.
O que a indústria de plásticos tem feito?
Muitas vezes, o cliente [indústria compradora do plástico] cobra um produto ambientalmente sustentável, mas pede dez cores, quer misturar materiais, o que dificulta a reciclagem. O nosso papel [indústria fornecedora] é mostrar para eles que, ao fazer isso, estão indo contra a economia circular.
Há muita resistência?
Muitas vezes o pessoal de marketing está preocupado em vender, está disputando espaço na prateleira, está disputando a preferência do consumidor. São coisas antagônicas.
Quem são as principais indústrias compradoras de plástico?
A primeira é a de embalagens de alimentos, bebidas, cosméticos. Depois, vêm a construção e o setor automobilístico.
Qual é o peso do canudinho, da sacola?
O canudinho e todas as embalagens descartáveis são cerca de 2% do total. Esse barulho todo de [poluição no] mar é canudinho e copo, que não dão 2%.
Há certo exagero, então?
Às vezes um cara pega o negócio de canudinho, tem uma baleia lá, põe os canudinhos na boca dela e fala que ela… O material é reciclável, o canudinho é a coisa mais fácil de reciclar.
Mas, se é tão simples, por que tem tanto lixo plástico, até mesmo na água da torneira?
Na água da torneira?
Sim, um estudo [da organização Orb Media, com participação da Folha e análise da Universidade de Minnesota, nos EUA] mostrou que há plástico até mesmo na água da pia. Esses estudos não têm comprovação científica nenhuma. E, se tiver, o plástico é hidrogênio e carbono.
O stent [tubo usado em procedimento médico], a prótese, tudo é feito de plástico, isso não faz mal nenhum ao ser humano.
Há uma evolução?
A discussão é ótima. Meu sonho é colocar o alimento no micro-ondas e comer alimento e embalagem, que nem sorvete e casquinha.
Mas não existe. Estamos sendo desafiados, isso move a cadeia. Para nós, quanto mais pressão melhor, mas pressão no bom sentido. Dizer que os oceanos vão ficar cheios de plástico…
O problema é também a visibilidade do descarte. Se joga vidro, metal, ele afunda, e o plástico não. Você vê o plástico e acha que os outros não existem.
O que tem sido feito em inovação?
Embalagens que possam ser mais reaproveitadas, com menos matéria-prima e ter um tempo de prateleira maior. Posso fazer um polímero de batata, mandioca, cana. São os bioplásticos.
Os bioplásticos já são realidade?
Têm participação pequena ainda, ficam bem mais caros, e isso encareceria o preço do produto final. É algo que será complementar.