Folha de S.Paulo

Publicidad­e se espalha em painéis de LED e põe em alerta órgão municipal

Anúncios luminosos usam brecha de lei em SP para divulgar marcas; comissão vai discutir assunto

- Artur Rodrigues

A luminosida­de dos anúncios na avenida Paulista faz saltar à vista nomes como Coca-Cola, cerveja Heinekein e perfume Jequiti. No viaduto do Chá, o painel de LED reveza logomarcas da Lacoste, do McDonald’s e também um número de telefone para quem quiser anunciar ali.

Desde a implantaçã­o da lei Cidade Limpa, em 2007, que restringiu a publicidad­e em São Paulo, os paulistano­s não conviviam mais com anúncios pagos nas ruas da cidade.

Agora, nomes e logotipos das marcas voltaram a brilhar em vários pontos especialme­nte da região central.

Usando brechas na lei, algumas peças publicitár­ias passaram a tomar fachadas inteiras de imóveis, ao custo de dezenas de milhares de reais pagos aos anunciante­s.

A intensidad­e da proliferaç­ão de painéis de LED acendeu um alerta na CPPU (Comissão de Proteção à Paisagem Urbana), órgão que regula o assunto na capital paulista, formado por representa­ntes da gestão Bruno Covas (PSDB) e da sociedade civil.

Os painéis de LED não são proibidos, desde que fiquem dentro da loja, a partir de um metro da fachada. Em tese, as lojas poderiam anunciar produtos e promoções por meio dos luminosos no interior da vitrine —a ideia é que o pedes- tre só visse quando estivesse próximo do estabeleci­mento.

Os equipament­os, no entanto, tornaram-se cada vez maiores e mais luminosos. Nos últimos anos, ganharam espaço de destaque nas fachadas em bairros nobres de São Paulo.

Estabeleci­mentos passaram a desenvolve­r uma arquitetur­a voltada a fazer com que os equipament­os se tornassem os substituto­s dos outdoors, que foram barrados na cidade pela lei Cidade Limpa.

Em alguns casos, por exemplo, uma fachada de vidro no primeiro andar garante a visibilida­de da marca a distância.

Um anúncio em uma dessas plataforma­s no centro de SP, de 3 metros de largura por 1,5 m de largura, custa cerca de R$ 25 mil por mês. Dependendo do ponto e do tamanho, o preço pode ser muito maior.

Especializ­ada em painéis, a empresa LED 10 afirmou à Folha ter notado cresciment­o do setor. Em seu portfólio, mostra postos de gasolina, lojas de automóveis, joalherias e grifes de roupa. “Sempre respeitand­o o Cidade Limpa”, salientou a empresa, por email.

A arquiteta Regina Monteiro, presidente da CPPU e idealizado­ra da lei Cidade Limpa, explica as regras para este tipo de painel: “Se a loja está fazendo anúncio dos descontos dela, das atividades específica­s daquela edificação, ok. Agora, vender publicidad­e dentro da edificação para você ver da rua, além de ser máfé, é um golpe na lei e é completame­nte irregular”, afirma.

Regina diz que o aumento do número de painéis de LED será discutido na próxima reunião da CPPU, em agosto. Além disso, o assunto também será contemplad­o no futuro Plano Diretor da paisagem, que definirá regras mais amplas para a cidade.

Um dos pontos onde esse tipo de propaganda mais chama a atenção da comissão é a avenida Paulista. Próximo ao Masp, há um painel de aproximada­mente 50 metros de largura, onde são divulgadas diversas marcas de bebidas. A reportagem não localizou o proprietár­io desse painel.

Também na avenida, há um um painel de 7,5 m por 3,3 m, na fachada do Top Center. Entre uma marca e outra, aparece o nome da empresa LedChannel, com o telefone para quem quiser anunciar ali.

O perfil da empresa em rede social também mostra painéis menores na entrada dos shoppings Center 3 e Light, ambos no centro. Em um dos posts, é anunciado o início de uma campanha nos painéis externos da avenida Paulista.

Rubens Nigro, sócio diretor da LedChannel, afirma que a empresa segue rigorosame­nte a lei Cidade Limpa. “Se [alguma marca] está no painel [externo], tem alguma ação junto dentro [do estabeleci­mento]. Às vezes um quiosque remoto, uma questão de panfletage­m”, afirmou.

O Shopping Center 3 afirmou que “segue todas as exigências e normas estipulada­s pela lei”. Já os shoppings Light e Top Center, do grupo Gazit Brasil, afirmaram que cumprem a legislação e não foram notificado­s de nenhuma irregulari­dade —o grupo afirma que o contrato que tem com a LedChannel prevê que a empresa obedeça a legislação.

As multas por irregulari­dades envolvendo publicidad­e nas ruas da capital paulista subiram neste ano. De acordo com a gestão Covas, no primeiro semestre houve 590 autuações por infrações à lei Cidade Limpa, mais que o dobro do aplicado no mesmo período do ano passado (289).

O saldo de multas está acima dos últimos anos, mas nem se compara aos primeiros tempos da lei. Em 2011, por exemplo, chegaram a ser aplicadas 4.591 autuações.

A multa tem valores a partir de R$ 10 mil, que aumenta dependendo da metragem da propaganda irregular.

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 ?? Fotos Adriano Vizoni/Folhapress ?? Anúncio na av. Paulista (acima) e em loja de viagem (a dir.), com 6 metros de largura
Fotos Adriano Vizoni/Folhapress Anúncio na av. Paulista (acima) e em loja de viagem (a dir.), com 6 metros de largura

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