Universidade dá curso ‘vip’ para fisgar brasileiros
Eles ainda são adolescentes, mas já têm tratamento vip em Portugal: recepção no aeroporto, workshops exclusivos, alimentação e hospedagem grátis, além de um intenso programa de atividades esportivas e culturais.
É com essa combinação de lazer e estudos que a Universidade do Algarve, no litoral sul do país, tenta fisgar potenciais estudantes brasileiros, cada vez mais cobiçados pelas instituições lusitanas.
Desde 2014, as universidades do país podem cobrar taxas mais altas dos alunos estrangeiros. Com uma população envelhecida e muitas vagas ociosas, as instituições portuguesas voltaram suas atenções para o maior país lusófono do mundo.
Atualmente, 34 instituições de Portugal aceitam o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Uma das primeiras a adotá-lo, a Universidade do Algarve investe agora na imersão dos candidatos no ambiente universitário internacional.
Foram oferecidas 40 vagas para brasileiros fazerem gratuitamente um minicurso de uma semana na instituição. A universidade também bancou a hospedagem (em alojamento próprio) e a alimentação.
Durante a manhã, os adolescentes participavam de workshops de diversas áreas, escolhidos no momento da inscrição. À tarde, aproveitavam para conhecer a cidade e praticar esportes como surf, stand up paddle e vôlei, além de explorarem as praias da região.
Batizado de Summer Campus, o programa aconteceu em julho e contou também com estudantes portugueses, mas que tiveram de pagar por participação e alojamento.
Pesquisa realizada pelo Datafolha em maio indica que 62% dos brasileiros entre 16 e 24 anos gostariam de sair do país. Portugal aparece como a segunda alternativa mais popular, atrás apenas dos EUA.
Entre os participantes, o desejo de deixar o Brasil é frequentemente relatado, por motivos que vão desde mais oportunidades profissionais até a falta de segurança.
“Sempre tive a ideia de fazer faculdade fora, porque a área de biologia marinha não tem muitas opções no Brasil. Já pesquisei bastante sobre isso”, conta Beatriz Mazzoni, 16.
Interessada em uma carreira em marketing ou em publicidade, a carioca Larisse Perrucho, 17, diz valorizar o fato de um diploma português ser válido em toda a Europa. Ela também afirma que a segurança é um aspecto importante.
“No Rio, e acho que no Brasil todo, nós andamos com medo na rua. Aqui, eu me senti muito bem em poder fazer as coisas a pé e mexer no celular tranquilamente na rua.”
Com dois filhos adolescentes participando do Summer Campus, os paulistanos Gines e Vânia Garcia decidiram acompanhar os jovens.
“Sei, por experiência no meu trabalho, que a formação no exterior é muito valorizada, inclusive em termos de retorno financeiro. Quem tem uma formação fora, especialmente na Europa, acaba se sobressaindo”, diz Gines.
Assim como eles, vários parentes optaram por acompanhar, ainda que indiretamente, os adolescentes no Algarve. “Os pais brasileiros são muito atenciosos”, avalia o reitor da universidade, Paulo Águas.
A quantidade de estudantes internacionais como um todo, e de brasileiros em especial, disparou em Portugal na última década. Houve uma alta de 95%, de acordo com estatísticas oficiais do setor. Os brasileiros lideram o ranking, com mais de 12 mil alunos.
Em 2017, o Consulado de Portugal em São Paulo registrou um aumento de mais de 35% na solicitação de vistos de estudante. Com o aumento da demanda, foram registrados atrasos na entrega dos vistos e houve quem perdesse o começo do ano letivo.
A Universidade do Algarve seguiu a tendência. Nos últimos quatro anos, a quantidade de alunos brasileiros triplicou, superando os 700.
“Mas nós não queremos ter turmas só de brasileiros. A ideia é integrar, agregar os estudantes internacionais no nosso ambiente universitário”, diz o reitor.
“Nós não queremos turmas só de brasileiros. A ideia é integrar, agregar os estudantes internacionais no nosso ambiente universitário Paulo Águas reitor da Universidade do Algarve