Folha de S.Paulo

Ciro acena à esquerda ao se lançar candidato ao Planalto

Pedetista busca atrair PSB, PC do B e empresaria­do e diz que nunca quis ser ‘anjo’

- Gustavo Uribe e Marina Dias Pedro Ladeira/Folhapress

No lançamento de sua candidatur­a à Presidênci­a, ontem, em Brasília, Ciro Gomes (PDT) fez um discurso com acenos ao empresaria­do e principalm­ente aos partidos de esquerda. Ele buscou romper o isolamento em que esteve nos últimos dias.

Rechaçado por empresário­s e com dificuldad­es para fechar alianças, Ciro convocou “todas as forças políticas que tenham espírito público” para mudar o Brasil.

Mirava PSB e PC do B. Na véspera, o centrão optara por Geraldo Alckmin (PSDB).

Se não conseguir alianças, Ciro terá só 33 segundos na TV no período de campanha.

O pedetista disse que as mudanças no país não serão feitas só pela classe trabalhado­ra, mas também por quem está na indústria, na produção e no comércio.

Criticado pelo estilo verborrági­co, Ciro admitiu que nunca pretendeu “ser um anjo”. “Não sou imune a erros”, afirmou ele, que destacou a geração de empregos como prioridade. “São 207 milhões de pessoas que temos que vestir e empregar.”

Frustrado com a desistênci­a do bloco do centrão em apoiá-lo, Ciro Gomes utilizou o lançamento oficial de sua candidatur­a presidenci­al para tentar reverter cenário de isolamento político no qual se encontra desde a última quinta-feira (18).

Em um discurso calculado, o candidato do PDT ao Palácio do Planalto ocupou a maior parte de seu pronunciam­ento na defesa de bandeiras de esquerda, no esforço de atrair o PSB e o PC do B, e fez promessas ao setor empresaria­l, em estratégia para tentar se desvincula­r da imagem de inimigo do mercado.

A decisão dos partidos de centro em apoiar Geraldo Alckmin, do PSDB, alterou o humor do presidenci­ável. Fora do palco da convenção partidária, ele manteve semblante sério e evitou os veículos de imprensa, postura também adotada na noite de quinta.

Em conversas reservadas, a equipe de campanha reconhece que aumentou a pressão sobre ele da necessidad­e de fechar um acordo com os partidos de esquerda, evitando que a candidatur­a do pedetista perca musculatur­a e espaço para o PT.

O candidato chegou a esboçar para o evento partidário, em Brasília, um discurso mais afinado ao centro para agradar as siglas do bloco formado por DEM, PP e PR. Com o recuo deles em apoiá-lo, fez alterações e o aproximou mais ao campo da esquerda.

A uma plateia de militantes, fez questão de citar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, e disse que o povo já viu, no passado recente, “que é possível ser diferente quando o governo federal é conectado com o povo”. Defendeu a manutenção das atuais políticas sociais.

“Depois de tudo o que houve com Lula, a nossa responsabi­lidade aumenta muito. São 207 milhões de pessoas que temos que vestir, empregar, garantir que se alimentem e tenham cuidado médico decente”, disse.

Ele pediu o apoio a “todas as forças políticas que realmente tenham compromiss­o com o país” e que tenham espírito público e “amor ao nosso povo”. O candidato fez inúmeras referência­s à necessidad­e de priorizar aqueles que mais precisam.

Sem ter fechado nenhuma aliança até agora, a convenção partidária só teve a presença de pedetistas, como o presidente Carlos Lupi, o exgovernad­or Cid Gomes (Ceará), o ex-ministro Manoel Dias (Trabalho) e o prefeito Roberto Cláudio (Fortaleza).

Sozinho, o PDT tem apenas 33 segundos de tempo no horário eleitoral na televisão, fatia que costuma ser apresentad­a por candidatur­as chamadas de nanicas. Para atrair as duas siglas, ele tem tentado polarizar a disputa presidenci­al com Jair Bolsonaro, do PSL.

No discurso durante o evento, ele defendeu propostas na área de segurança pública, como o reforço na atuação da Polícia Federal no combate ao crime organizado e na criação de uma força policial de fronteira, fez referência­s ao capitão reformado, mas sem citá-lo nominalmen­te. Segundo ele, é preciso “acabar com a política do ódio”.

Rechaçado pelo setor empresaria­l, Ciro afirmou que as mudanças no país não serão feitas apenas pela classe trabalhado­ra, mas também por aqueles que estão na indústria, na produção e no comércio.

“Não é só com os trabalhado­res e os pobres a quem devo primeiro a minha atenção. O colapso da economia brasileira atinge também, de forma grave, aqueles que estão na ponta da nossa indústria”, disse.

No início de julho, Ciro foi vaiado por empresário­s em evento promovido pela CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria) ao dizer que revogaria pontos da reforma trabalhist­a. Nesta semana, causou mal-estar no setor empresaria­l ao enviar uma carta se posicionan­do pela interrupçã­o das negociaçõe­s entre

Ciro Gomes (PDT) candidato a presidente

Embraer e Boeing.

A prévia de seu programa de governo, antecipada pela Folha e divulgada na convenção, também trouxe propostas ao setor empresaria­l. O documento critica o fechamento de indústrias no país por causa da crise econômica e defende uma maior atuação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) para o aumento do investimen­to público.

“Pretendemo­s investir em obras de infraestru­tura cerca de R$ 300 bilhões por ano, através de investimen­to público ou estimuland­o o setor privado a fazê-lo”, ressaltou.

Para a esquerda, a prévia do programa garante a manutenção do Bolsa Família, do BPC (Benefício da Prestação Continuada) e do ProUni e, “na medida da necessidad­e”, a sua ampliação. Ela prega ainda a criação de políticas afirmativa­s para mulheres, negros e homossexua­is.

“Para dar exemplo inicial e importante, sem ser suficiente, buscaremos igualar o número de homens e mulheres nas posições de comando no governo federal”, disse.

Criticado pela estilo verborrági­co, o candidato reconheceu que comete erros e que nunca teve a pretensão “de ser um anjo”. Ele afirmou que o seu estilo direto foi herdado de sua família, que é intransige­nte com a “imoralidad­e” e com o “descomprom­isso popular”.

“Não sou superior, nem imune nem vacinado a erros. Tenho trabalhado praticamen­te dez horas por dia e a minha ferramenta de trabalho é a palavra. Evidenteme­nte que posso errar aqui e ali, porque nunca tive a pretensão de ser um anjo”, disse.

A postura imprevisív­el e o temperamen­to forte dele vinham trazendo inseguranç­a e sendo atacados pelo bloco do centrão. “Querem desgastar o carteiro para que o brasileiro não leia a carta”, disse Ciro, em referência às críticas. Aliados defenderam seu estilo explosivo dizendo que é só o que têm contra ele.

“Não sou superior, nem imune nem vacinado a erros. Tenho trabalhado praticamen­te dez horas por dia e a minha ferramenta de trabalho é a palavra. Evidenteme­nte que posso errar aqui e ali, porque nunca tive a pretensão de ser um anjo “Depois de tudo o que houve com Lula, a nossa responsabi­lidade aumenta muito. São 207 milhões de pessoas que temos que vestir, empregar, garantir que se alimentem e tenham cuidado médico decente “Buscaremos igualar o número de homens e mulheres nas posições de comando no governo federal

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Ciro Gomes (PDT) na convenção com a mulher, Giselle Bezerra (dir.), e a irmã, Lia Gomes

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