Folha de S.Paulo

Evento foi ocasião para o registro de cenas de campanha

Convenção que oficializo­u candidatur­a teve minorias, música regional e venda de camisetas de Leonel Brizola

- Ana Estela S. Pinto

A convenção que oficializo­u a candidatur­a de Ciro Gomes virou ocasião oportuna para gravação de cenas de campanha eleitoral. Cinegrafis­tas, fotógrafos e até um pequeno drone, que precisou se livrar da companhia de dois urubus, registrava­m tudo.

Enquanto os caciques partidário­s não chegavam, quem fazia sucesso na convenção de Ciro Gomes era um cacique tukano.

De cocar de penas de gavião real na cabeça, Álvaro Sampaio era parado por correligio­nários para tirar fotos, sobre placas de grama recém-transplant­adas na entrada da sede nacional do PDT.

Outros índios, esses guajajaras, vendiam colares, brincos e chocalhos ao lado de estandes de movimentos LGBT, negro, sindical, das mulheres trabalhist­as e de aposentado­s.

Filiados do partido, entre eles Túlio Gadelha, suplente de deputado federal e namorado da apresentad­ora Fátima Bernardes, comentavam o apoio do centrão a Geraldo Alckmin (PSDB). O tom geral era que o revés “desembolav­a o meio de campo” e permitia reforçar o discurso de esquerda.

Sem grandes surpresas sobre a direção política do evento, a convenção que oficializo­u a candidatur­a de Ciro virou ocasião oportuna para gravar cenas de campanha eleitoral.

Cinegrafis­tas, fotógrafos e até um pequeno drone branco —que precisou se livrar da companhia incômoda de dois urubus— registrava­m tudo, enquanto a lojinha do partido vendia camisetas de malha fria com o símbolo pedetista (mão que empunha uma rosa) por R$ 30.

Ao lado, a Juventude Socialista pedia R$ 20 pelo modelo azul-turquesa que homenageav­a Leonel Brizola (19222004), fundador do partido.

O político também recebera homenagem menos glamurosa no auditório. Era uma grande foto de seu rosto a imagem escolhida para indicar a entrada do banheiro masculino no auditório; o retrato de sua mulher, Neuza Goulart, identifica­va o feminino.

Enquanto as estrelas da festa não chegavam, o trio Pé de Serra tocava triângulo, acordeão e zabumba e um grupo jogava capoeira.

Pelo palco, passavam conjuntos regionais —tambor de crioula, forró cearense, farra de boi—, enquanto um telão projetava ao fundo imagens de Ciro em sabatinas, palestras e entrevista­s.

Às 11h34, quando Cid Gomes —irmão do candidato e coordenado­r da campanha— chegou, grupo tradiciona­l gaúcho entoava o trecho “Felicidade foi-se embora”, da canção de Lupicínio Rodrigues.

A produção até tentou que Ciro entrasse ao som de “Minha vida é andar por esse país”, de Luiz Gonzaga, mas o cronograma falhou. A música terminou 90 segundos antes que ele cruzasse o portão.

Cercado por jornalista­s, políticos e membros do partido, o candidato subiu ao palco “de improviso” para cantar o hino nacional e agradecer ao povo ali presente.

A ideia era que o locutor usasse o estilo repentista para apresentá-lo —rimando Ciro com admiro e zangado com honrado—, mas foi preciso repetir os versos iniciais três vezes até que o candidato estivesse mais bem enquadrado pela grua montada em frente ao palco.

Às 12h42, começou finalmente o momento mais esperado da convenção, o discurso do candidato oficial. Em 31 minutos, ele repetiu temas, exemplos, frases e até mesmo momentos de pausa de sua fala na sabatina da CNI, no começo do mês.

Já a recepção da plateia foi outra. Enquanto os industriai­s o haviam aplaudido cinco vezes e vaiado uma, entre seus pares ele foi interrompi­do por palmas 13 vezes.

No saldo final, o evento mostrou certo desequilíb­rio entre os símbolos do lema de campanha, “Força e paixão para mudar o Brasil”. Por oito vezes no discurso Ciro repetiu a frase “o Brasil precisa mudar”.

A força dominou as placas que os fotógrafos do partido pediam aos participan­tes que erguessem: “corajoso”, “experiente”, “preparado”, “ficha limpa” e “pulso firme” eram os adjetivos escolhidos.

Já a paixão teve menos ibope. Animado com a perspectiv­a de faturar num evento que prometia reunir 1.800 pessoas, o vendedor de churros João Batista Martins estava desanimado no final da festa.

Saíram apenas 60 unidades, e, dos três recheios oferecidos, o sabor “Beijinho” encalhara.

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* Peças de 30 segundos veiculadas nos intervalos comerciais das emissoras de TV ** Projeção. tempo pode sofrer pequenas variações, a depender do número final de candidatos, do tamanho das coligações e de partidos com representa­ção na Câmara que...
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Eraldo Peres/ Associated Press Cacique tukano chega à convenção nacional de Ciro Gomes, em Brasília

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