Resultado negativo em junho frustra retomada do emprego
Demissões superam contratações em junho e 661 postos deixam de existir
Pela primeira vez no ano, demissões superaram contratações no mercado formal em junho. O resultado frustrou a expectativa de recuperação do emprego em 2018.
O saldo do cadastro de empregados e desempregados ficou negativo em 661 vagas. Desde 2002, ele só não tinha sido positivo nesse mês em 2015 e 2016.
Pela primeira vez neste ano, um mês fechou com mais demissões do que contratações no mercado de trabalho formal.
Após a desaceleração nos meses anteriores, o corte de vagas em junho terminou de frustrar a expectativa de recuperação do emprego.
O saldo do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) ficou negativo em 661 vagas no mês passado, segundo dados divulgados pelo Ministério do Trabalho nesta sexta-feira (20).
Em igual mês do ano passado, o saldo foi positivo. Haviam sido criadas 9.821 vagas com carteira assinada.
Para Bruno Ottoni, pesquisador do iDados e Ibre/FGV, o resultado do mês é pessimista. “O número mostra que a recuperação perdeu fôlego.”
Para ele, a paralisação dos caminhoneiros é apenas um fator desse cenário ruim, que se junta a outras questões, como a redução da atividade econômica e a piora do cenário internacional. “As projeções vão ficar ainda em um terreno positivo para o ano, mas estamos correndo o risco de nos aproximarmos de zero.”
Nos meses anteriores à paralisação dos caminhoneiros, o mercado formal já mostrava forte desaceleração, mas ainda tinha um saldo positivo —ou seja, as contratações superavam as demissões.
Em maio, o Brasil registrou a criação de 33,7 mil vagas.
“A coisa já não vinha bem antes da greve. O que a greve fez foi piorar”, disse o professor Hélio Zylberstajn, da USP.
Segundo ele, o resultado ruim se torna mais significativo por ter sido registrado em um mês que costuma ter criação de emprego.
“Nesse período do ano, em uma época normal, estaríamos com crescimento no emprego”, disse. “Esse dado acaba de enterrar a esperança que a gente tinha há seis meses, de que este seria um ano bom.”
Desde 2002, junho só havia tido resultados negativos em 2015 e 2016, de acordo com a série histórica do governo.
No acumulado no primeiro semestre de 2018, o saldo de criação de emprego está positivo em 392,5 mil vagas.
O problema é que, no fim do ano, sempre há uma grande quantidade de demissões, que podem reverter esse saldo positivo.
“Tudo que a gente ganhou até agora será perdido em dezembro e mais um pouco. Então o que a gente vai ganhar depende de julho a outubro, porque novembro e dezembro já têm demissão”, disse Zylberstajn.
Outro fator que afeta as contratações especialmente no segundo semestre é o período eleitoral.
“Todas as empresas, todos os setores estão esperando o quadro da eleição ficar mais claro para tomar decisões.”
Em junho, a agropecuária garantiu um saldo positivo de 40,9 mil, que, segundo Zylberstajn, é sazonal —ou seja, típico para este período. Mais de metade está ligada só à cultura de café e de laranja.
Por outro lado, a indústria de transformação e o comércio foram os setores que mais cortaram vagas. Cada um deles fechou mais de 20 mil empregos em junho.
Entre as regiões, o Sul foi responsável por um saldo negativo de mais de 17 mil vagas.
As demais registraram saldos positivos.
O saldo de junho teria sido ainda pior sem contar as va- gas intermitentes.
O resultado divulgado pelo governo considera um saldo positivo de 2.688 vagas de trabalho nessa modalidade. Sem considerá-lo, o resultado geral fica negativo em mais de 3.000 postos.
A Folha revelou que o governo tem incluído os intermitentes na estatística de emprego mesmo sem saber se de fato trabalharam. Dessa forma, desde novembro, os contratos de intermitentes têm aumentado o saldo do Caged.
Criada pela reforma trabalhista, essa modalidade também é conhecida como zero hora, já que não prevê uma jornada fixa.
O Ministério do Trabalho informou, na ocasião, que será feita uma estimativa da proporção de contratados nessa modalidade que efetivamente trabalharam.