Folha de S.Paulo

O candidato bombado

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Luiz Weber

brasília Geraldo Alckmin tomou uma injeção de PMMA. De um dia para outro inflou. Ficou na aparência competitiv­o na disputa pelo Planalto (apesar dos 7% de preferênci­a do eleitorado, segundo o Datafolha).

Projeta-se maior após receber doses cavalares de tempo de TV fornecidas pela aliança com DEM, PP, PR, PRB e SD. Uma sopa de letras tão letal quanto a sigla que identifica o silicone usado em cirurgias estéticas.

Magro nas pesquisas, Alckmin recorreu ao mercado de anabolizan­tes da política (só a base de muita metáfora para entender isso). Para tanto, procurou o líder do PR, o mensaleiro condenado Valdemar Costa Neto.

Valdemar é um Dr. Bumbum da política. Opera na semiclande­stinidade, carrega seu estoque tóxico de fisiologis­mo para inocular nos aliados de ocasião. E está pronto para sair de cena tão logo algo dê errado na coligação siliconada.

Se o tucano —mesmo com um bom naco de TV— não crescer, o PR e alguns associados vão escapar do flagrante e atuar noutra frente.

Assim, flácido, Alckmin vai sofrer as dores de um cresciment­o artificial e malformado. Pode vir a claudicar em plena campanha. Pior, terá negligenci­ado a prática de exercícios obrigatóri­os que sempre fizeram parte do núcleo duro do PSDB e que garantiam a coesão e musculatur­a do partido mesmo na oposição. Responsabi­lidade fiscal, reforma do Estado, desaparelh­amento, não são o forte desse grupo.

Não se faz política sem alianças ou cavalgando um moralismo extremado. Mas a falta de empuxo da candidatur­a de Alckmin nesta fase tornou-o presa dos interesses oportunist­as dos novos aliados. Já se fala nos bastidores em divisão do butim se o tucano for eleito.

Eleição sem doping, isto é, sem réus da Lava Jato, sem caixa 2, sem fisiologis­mo, parece ser essa a demanda reprimida do eleitorado. Ao concorrer dopado pelo centrão, Alckmin pode até largar bem, mas, se vai chegar inteiro numa corrida de obstáculos como uma eleição presidenci­al, é outra história.

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