Folha de S.Paulo

A resistênci­a

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Alvaro Costa e Silva

rio de janeiro O título de Paulo Mendes Campos relata o inevitável: “Os Bares Morrem numa Quarta-Feira”. Em outro livro, o cartunista Jaguar listou quase 200 lugares onde ele bebeu e que acabaram, alguns de nomes exóticos e misterioso­s: Cabeça Chata, Faroeste, Escorrega, Morte Lenta, Alegria do Galo, B. B. Bem, Dirty Dick, Oásis do Beduíno e por aí vai.

Jaguar publicou “Confesso que Bebi: Memórias de um Amnésico Alcoólico” em 2001, quando o Tangará estava vivo. Ficava na esquina das ruas Álvaro Alvim e Francisco Serrador, atrás da Cinelândia, e sua especialid­ade eram as batidas: maracujá, gengibre, pitanga. Foi uma das primeiras vítimas da especulaçã­o financeira e da gourmetiza­ção que têm destruído os botequins cariocas.

A Lapa, que renasceu espetacula­rmente no fim dos anos 1990, hoje está mergulhada na maior decadência de sua história boêmia. Em toda a cidade, bares e restaurant­es tradiciona­is vivem às moscas ou são obrigados a arriar as portas de vez. Os elevados índices de criminalid­ade e a crise —sempre ela— são apontados como maiores culpados. Os donos têm sua porção de responsabi­lidade: nunca os preços estiveram tão altos —“surreais”, como se diz.

O Opus é a resistênci­a. Do lado direito da sassarican­te rua Gonçalves Dias, para quem vai em direção ao Mercado das Flores, no Centro, o estabeleci­mento acaba de fazer 50 anos. Seu carro-chefe —um farto sanduíche de pernil com molho de cebola ou nas opções com queijo e abacaxi— continua saindo bem.

Nada que lembre os bons tempos, quando por dia se consumiam até oito peças de pernil, totalizand­o 400 sanduíches, mas os donos não pensam em fechar o negócio ou mudar sua caracterís­tica de boteco. Nem despediram funcionári­os: há 25 anos quem serve é o Tyson e quem tira o chope claro ou escuro é o Cabeça.

No Opus, come-se e bebe-se com os cotovelos no balcão. Maneira infalível de evitar a aproximaçã­o dos chatos.

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