Folha de S.Paulo

PSOL lança Boulos e sonha liderar a esquerda

- Marco Rodrigo Almeida e Renan Marra Paulo Lopes/Futura PressFolha­press

Ao lançar oficialmen­te em São Paulo sua candidatur­a presidenci­al neste sábado (21), o PSOL almeja, mais que chegar ao Palácio do Planalto, alcançar uma posição de liderança no campo da esquerda brasileira.

Uma vitória de Guilherme Boulos, o candidato do partido, hoje parece mais que improvável. Na última pesquisa Datafolha, divulgada em junho, ele oscilava entre 0% e 1% das intenções de voto. Coligado apenas com o PCB, o PSOL disporá de aproximada­mente 13 segundos na propaganda eleitoral na TV e no rádio.

Partido e candidato, porém, vislumbram a longo prazo um cenário bem mais favorável que os números de agora deixam supor. Aposta-se em Boulos como um sucessor natural do ex-presidente Lula (PT), hoje preso por corrupção e virtualmen­te inelegível pela Lei da Ficha Limpa, no comando da esquerda.

Além da semelhança física com o Lula sindicalis­ta dos anos 1970, outros pontos ligam Boulos ao petista.

Os dois ganharam projeção política ao liderar grandes movimentos sociais —o ex-presidente organizou as primeiras greves do ABC durante a ditadura militar; o pré-candidato do PSOL é coordenado­r nacional do MTST (Movimento dos Trabalhado­res Sem Teto)—, angariando apoio também de intelectua­is e artistas.

Lula reconheceu às semelhança­s em discurso feito em São Bernardo (SP) antes de se entregar à Polícia Federal, em 7 de abril. Nem mesmo políticos petistas receberam do ex-presidente tantos elogios quanto Boulos.

“Ele só tem 35 anos de idade, e, quando eu fiz a greve de 78, eu tinha 33 anos e consegui, através da greve, chegar a criar um partido e virar presidente. Você tem futuro, meu irmão, é só não desistir”, disse o ex-presidente.

Aos olhos do PSOL, esse futuro também era evidente. Boulos pareceu ser candidato ideal para vencer a desconfian­ça da população em relação aos políticos tradiciona­is.

É um nome jovem (36 anos), novo na política, sem envolvimen­to em escândalos de corrupção, bem-visto por movimentos progressis­tas.

Cortejado pelo partido, Boulos filiou-se em março deste ano e desbancou quadros históricos do PSOL, como Chico Alencar e Plinio de Arruda Sampaio Jr., que buscavam a candidatur­a à Presidênci­a.

“Cogitamos que seria mais apropriado um nome reconhecid­o pela atuação em movimentos sociais”, diz Alencar. “Boulos é uma liderança consolidad­a, jovem, tem grande inserção na mais expressiva luta do ponto de vista urbano, a da moradia. Ele vai brilhar na campanha.”

Também houve, entretanto, reações bem menos entusiasma­das à escolha do líder do MTST como candidato. Setores da agremiação temem que a proximidad­e com Lula leve o programa de governo de Boulos a ficar próximo demais ao do PT, partido do qual o PSOL é uma dissidênci­a por discordar dos rumos tomados no governo Lula.

“A candidatur­a de Boulos representa um recuo em direção ao PT, um retrocesso. Como Lula, Boulos propõe soluções cosméticas, sem alterar as estruturas do país”, diz Sampaio Jr.

Ele cita como exemplo o programa econômico. Sampaio Jr. e uma ala do PSOL defendem o não pagamento da dívida pública como forma de recuperar a capacidade de investimen­to do Estado, enquanto o material apresentad­o por Boulos, por ora, fala em estabiliza­r a dívida pública em proporção do PIB.

Na área social, o partido abraça pautas que julga não contemplad­as por outras siglas de esquerda, como o direito ao aborto, a desmilitar­ização da polícia, a legalizaçã­o da maconha e direitos da população LGBT.

Em contraposi­ção a outros partidos, a candidatur­a do PSOL conta com uma série de particular­idades. A vice de Boulos, Sônia Guajajara, será a primeira indígena a compor uma chapa para disputar a Presidênci­a. Para ele, a parceria é simbólica sobre o projeto do partido para o Brasil.

Outra curiosidad­e é que a campanha não conta com marqueteir­o. Segundo o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, o partido não tem a intenção de “fabricar” o seu candidato, prática que diz ser comum entre os concorrent­es. Sem o profission­al, Boulos terá de superar sua dificuldad­e de sorrir em público.

Admitindo que o PSOL é exigente na hora de formar alianças, Medeiros diz que não é preciso ter a maioria no Congresso para se governar.

“Boulos é o novo. Bolsonaro, Alckmin e Meirelles representa­m o velho e são inimigos do Brasil”, afirma.

 ??  ?? Guilherme Boulos participa de ato pela democracia em São Paulo (SP), na noite de quinta (18)
Guilherme Boulos participa de ato pela democracia em São Paulo (SP), na noite de quinta (18)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil