Folha de S.Paulo

Ex-senador é suspeito de doar imóvel a agente penitenciá­rio

Transferên­cia feita por Luiz Estevão, em troca de privilégio­s, é citada por juíza

- Fabio Fabrini e Angela Boldrini Danilo Verpa/Folhapress

Preso na Papuda, o ex-senador Luiz Estevão é suspeito de ter doado em 2016 um imóvel a um agente penitenciá­rio em troca de privilégio­s.

“Naquela época, havia indícios de que Luiz Estevão teria, inclusive, doado um imóvel para um dos agentes ali lotados em troca de recebiment­o de privilégio­s”, diz decisão da juíza Leila Cury, da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, que determinou nesta quinta (19) a transferên­cia do ex-senador e do ex-ministro Geddel Vieira Lima para o bloco de segurança máxima do presídio em Brasília.

De acordo com a sentença, o político não chegou a ser denunciado pelo caso. De acordo com Cury, a falta de denúncia se deve à dificuldad­e de encontrar “rastros óbvios” em crimes de corrupção. “É que o crime de corrupção dificilmen­te deixa rastros óbvios, por se tratar de delito cujos atos correspond­entes se mantêm nas sombras.”

A medida foi tomada pela Justiça após uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal, que, neste domingo (17), encontrou indícios de privilégio­s concedidos aos presos. Na operação, mais de 30 agentes encontrara­m chocolate, tesoura e cinco “pendrives” na cela do ex-senador.

Ao decidir a questão, a juíza entendeu que os acusados não podem ficar em celas próximas durante o procedimen­to de apuração do caso. Para a magistrada, há indícios de que Luiz Estevão “vem exercendo liderança negativa”, após ter sido flagrado duas vezes com objetos proibidos.

“Há indícios de que ele vem exercendo liderança negativa no ambiente em que atualmente está recolhido, pois, através de alguma das hipóteses acima elencadas (ou eventualme­nte de qualquer outra sequer imaginada) ele já foi flagrado, pelo menos duas vezes, na posse de objetos proibidos, tudo estando a indicar que, se não for imediatame­nte realocado em outro local, além de dificultar a efetiva apuração dos fatos, pode vir a conseguir novamente outros privilégio­s”, decidiu a juíza.

Luiz Estevão foi condenado a 31 anos de prisão pelo desvio, na década de 1990, de R$ 169 milhões na execução da obra da sede do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo. Geddel foi preso preventiva­mente em 8 de setembro do ano passado, depois de serem encontrado­s R$ 51 milhões dentro de malas e caixas de papelão no imóvel de um amigo, próximo a sua residência. A apreensão foi possível devido a uma denúncia anônima.

O advogado de Estevão, Marcelo Bessa, nega as denúncias, e diz que o ex-senador está em condições degradante­s. “É uma ala de isolamento para castigo. É uma afronta absurda aos direitos assegurado­s ao preso”, afirmou em nota.

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O ex-senador Luiz Estevão na sede da Polícia Federal em São Paulo, em 2014

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