Folha de S.Paulo

EUA revelam trama de sexo e mentiras de suposta agente russa

- Sharon Lafraniere e Adam Goldman The New York Times, tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Durante quatro anos, uma russa se infiltrou em círculos conservado­res dos EUA para influencia­r políticos republican­os poderosos, enquanto secretamen­te mantinha contato com agentes da inteligênc­ia russa.

Maria Butina, revelaram autoridade­s federais americanas nesta semana, tinha laços também com um integrante do governo em Moscou e um bilionário próximo ao Kremlin a quem chamava de “financiado­r”.

Segundo promotores, ela mentiu para conseguir um visto de estudante e frequentar a graduação na Universida­de Americana em Washington, em 2016. Depois, de olho em um visto de trabalho que lhe garantisse permanênci­a mais longa, ela propôs a um americano compensá-lo com sexo em troca de um emprego.

Butina foi morar com um operador político republican­o que tinha o dobro de sua idade, a quem descrevia como namorado e que realizava seus trabalhos acadêmicos, mas por quem expressava desprezo em particular.

A russa é acusada de conspiraçã­o e atuação ilegal como agente de Moscou. Segundo os promotores, ela foi peça central em uma campanha longa e calculada para manobrar políticos americanos em Washington a favor do Kremlin.

Seu advogado, Robert Driscoll, salientou que Butina não foi indiciada pelo procurador especial Robert Mueller, que investiga a interferên­cia russa nas eleições, e, em Moscou, autoridade­s russas disseram que ela foi um peão em um jogo geopolític­o muito maior.

“Você tem a sensação de que alguém pegou um relógio e uma calculador­a para determinar quando a decisão sobre a prisão de Maria Butina deveria ser decretada”, disse em nota Maria Zakharova, portavoz da Chancelari­a russa, aludindo à reunião entre Donald Trump e o russo, Vladimir Putin, ocorrida no dia 16.

Os promotores americanos não citaram nomes de partidos ou de políticos, mas os esforços de Butina claramente visavam líderes republican­os, sobretudo aqueles com aspirações à Casa Branca em 2016, incluindo o hoje presidente Donald Trump.

O estratagem­a descrito parece outra das tentativas do governo russo de influencia­r o processo político dos EUA.

Enquanto agentes de Moscou invadiam computador­es da campanha democrata, Butina fazia conexões com republican­os, com o lobby das armas e com grupos religiosos conservado­res, em uma operação de US$ 125 mil (US$ 470 mil) com outros agentes.

Quem a orientava era supostamen­te Alexander Torshin, o vice-presidente do Banco Central russo, que tem laços com a inteligênc­ia em Moscou.

“A campanha de influência secreta da acusada envolveu um planejamen­to substancia­l, coordenaçã­o e preparação”, disseram os promotores.

A lista de contatos da suspeita incluía uma conta de email associada à FSB, a agência de inteligênc­ia russa, e uma revista do FBI em seu apartament­o encontrou um bilhete que dizia: “Como responder à oferta de emprego da FSB?”.

A juíza Deborah A. Robinson negou fiança, aceitando o argumento da Promotoria de que ela poderia fugir do país.

Os promotores apresentar­am acusações criminais depois que, no fim de semana, agentes relataram que Butina estava retirando dinheiro do país, mandou empacotar suas coisas, procurou um caminhão de mudanças e cancelou o aluguel do apartament­o.

Butina, que se declara inocente, pode ser condenada a 15 anos de prisão.

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21.abr.13/Associated Press Butina discursa sobre armas em Moscou

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