Folha de S.Paulo

Prévia da inflação dá trégua após efeitos da greve

- Anaïs Fernandes

Após registrar em junho a maior alta para o mês desde 1995, a inflação dá sinais de que trará algum alívio ao consumidor em julho, conforme os preços dos alimentos retornam à normalidad­e após o impacto da paralisaçã­o dos caminhonei­ros.

O IPCA-15 deste mês, que coletou informaçõe­s entre 14 de junho e 12 de julho e que serve como uma prévia da inflação oficial do país, desacelero­u para 0,64%, informou o IBGE nesta sexta-feira (20).

A expectativ­a dos analistas ouvidos pela agência Bloomberg era de avanço de 0,73%.

No ano, o IPCA-15 acumula alta de 3%, e, em 12 meses, acelerou para 4,53% —acima do centro da meta do governo para 2018, de 4,5%.

Apesar da redução de 0,47 ponto percentual em relação ao 1,11% de junho, o dado de julho representa a maior taxa para o mês desde 2004 (0,93%).

“O patamar ficou mais elevado porque ainda há reflexos da greve. Eles vão se diluindo, há espaço para mais queda, mas nada muito além do que vimos”, diz Joelson Sampaio, professor da FGV EESP (Escola de Economia de São Paulo).

A conta de luz mais cara segurou a queda do índice. A energia elétrica subiu 6,77%, exercendo o maior impacto individual sobre o indicador. Segundo o IBGE, a alta reflete reajustes nas tarifas em São Paulo, Curitiba, Brasília, Porto Alegre e Belo Horizonte.

Em casa, as famílias pagaram mais também pelo gás: o botijão subiu 1,36%. No início de julho, a Petrobras autorizou reajuste nas refinarias de 4,38% para o modelo de 13 kg.

Com isso, a categoria habitação foi de 1,74% em junho para 1,99% em julho, maior variação entre os nove grupos monitorado­s pelo instituto.

A alimentaçã­o —vilã do IPCA-15 anterior, quando subiu 1,57%— desacelero­u para 0,61%. O preço dos alimentos subiu no mês passado porque produtos ficaram retidos em bloqueios nas estradas durante o movimento de caminhonei­ros que começou em 21 de maio e durou 11 dias.

Entre as principais quedas de julho estão batata-inglesa (-24,8%), tomate (-23,57%), cebola (-21,37%), hortaliças (-7,63%) e frutas (-5,24%).

“Produtos de ciclo baixo foram fortemente influencia­dos, mas o que aconteceu em hortifrúti foi pontual, e os preços estão se estabiliza­ndo em patamares anteriores à greve”, afirma Thiago Berka, economista da Apas (Associação Paulista de Supermerca­dos).

Outros produtos, no entanto, seguem em alta, como o leite longa vida (18,3%) e o frango inteiro (6,69%).

Francisco D’Orto Neto, professor da Faculdade Fipecafi, diz que é normal aumentos de preços acontecere­m mais rápido que cortes. “Quem controla faz o repasse rápido para corrigir o problema, mas não abaixa de imediato”, afirma.

Transporte­s avançaram 0,79%, abaixo do 1,95% de junho. Isso porque os combustíve­is recuaram 0,57%, com redução nos preços do óleo diesel (-6,29%), etanol (-0,78%) e gasolina (-0,37%). Na outra ponta, as passagens aéreas subiram 45,05%.

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