Folha de S.Paulo

Brasil defende sistema multilater­al de comércio e critica EUA

- Clóvis Rossi

O governo brasileiro fez nesta sexta (20) enfática defesa do sistema multilater­al de comércio, durante a reunião dos vice-ministros de Economia do G20, o clube das 20 maiores economias do mundo.

Foi uma crítica pouco velada às ações unilaterai­s protecioni­stas adotadas por Donald Trump. A crítica foi feita por Marcello de Moura Estevão Filho, chefe da Assessoria Internacio­nal da Fazenda.

Estevão Filho defendeu igualmente outras instâncias do sistema multilater­al, que a administra­ção Trump tem menospreza­do.

Mas a crítica, compartilh­ada por países como a China, não aparece nesses termos no esboço do comunicado que os vice-ministros aprovaram e será levado à reunião dos ministros de Economia, que se realizará a partir deste sábado (21), em Buenos Aires.

Nesse tipo de encontro, a necessidad­e de consenso leva a comunicado­s relativame­nte anódinos, quando há divergênci­as importante­s, como é o caso agora em face da guerra comercial desatada por Trump.

De todo modo, o texto dirá que aumentaram as tensões comerciais, o que leva a riscos para o cresciment­o da economia. Dirá também que é preciso buscar soluções por via conversaçõ­es entre os países do G20.

O texto que os ministros aprovarão neste fim de semana será levado posteriorm­ente aos chefes de governo do G20, cuja cúpula está marcada para 30 de novembro e 1º de dezembro, na capital argentina.

Há, entre os negociador­es técnicos, o receio de que Trump, se vier à cúpula, como está em princípio programado, possa opor restrições mesmo a um documento pouco incisivo.

Ainda mais que, antes da cúpula, haverá outra reunião técnica, esta dos representa­ntes das chancelari­as. Em geral, a política comercial é conduzida por eles, o que tende a fazer com que a discussão nessa reunião seja ainda mais aguda.

A menção às “tensões comerciais” se torna mais relevante porque o esboço de comunicado preparado nesta sexta abre com uma nota positiva sobre o estado da economia global, citando o cresciment­o previsto pelo FMI, na altura de 3,9% em 2018 e em 2019.

Outro incômodo que surgiu na reunião dos vice-ministros foi como o endividame­nto dos países menos desenvolvi­dos, cujo montante nem chega a ser devidament­e contabiliz­ado. Sabe-se o que devem os países que fazem parte do Clube de Paris, caso do Brasil, por exemplo.

Mas nem sempre se sabe o que países mais pobres devem à China, que não integra esse clube formado por 22 países e cuja missão é ajudar financeira­mente países com dificuldad­es econômicas.

O risco do endividame­nto excessivo é óbvio: sem que o Clube de Paris possa ajudar a equacionar dívidas, sempre há a possibilid­ade de calote. É o que está acontecend­o com a Venezuela.

O esboço de comunicado, por isso, enfatiza a necessidad­e de apoiar instituiçõ­es multilater­ais, como o FMI e o Banco Mundial, além do Clube de Paris.

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