Folha de S.Paulo

Dólar fecha abaixo de R$ 3,80 com Trump e apoio de centrão a Alckmin

Cenário eleitoral local também fez Bolsa descolar do mercado externo e encerrar semana em alta

- Tássia Kastner, Anaïs Fernandes e Danielle Brant Leah Millis/Reuters

O dólar despencou ante o real nesta sexta-feira (20) e fechou abaixo dos R$ 3,80 pela primeira vez em dez dias.

A queda foi resultado de uma combinação improvável de notícias do cenário externo e da conjuntura política atual. A Bolsa brasileira destoou do exterior e avançou mais de 1%.

Nesta sexta, e pelo segundo dia consecutiv­o, o presidente dos EUA, Donald Trump, criticou a alta da taxa básica de juros em seu país.

Se na véspera ele havia comentado o tema em entrevista, dessa vez recorreu ao Twitter. Trump afirmou que os EUA “não devem ser punidos” porque sua economia está indo bem. “O aperto [monetário] agora fere tudo o que fizemos”, escreveu.

“Os Estados Unidos deveriam poder recapturar o que foi perdido devido à manipulaçã­o ilegal de moedas e a acordos comerciais ruins. As dívidas perto de vencer e nós estamos aumentando juros —sério?”, disse na mensagem.

As manifestaç­ões do presidente americano colocam em xeque a independên­cia do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA). A taxa americana está no intervalo entre 1,75% e 2% ao ano, e a expectativ­a é que os membros do Fed promovam mais dois aumentos neste ano apoiados pela recuperaçã­o da economia do país.

Quando as taxas de juros americanas sobem, a tendência é que investidor­es migrem recursos antes aplicados em países emergentes, conside- rados mais arriscados, para títulos da dívida dos Estados Unidos. O movimento tende a fazer o dólar se valorizar.

No entanto, as manifestaç­ões de Trump têm tido o efeito de derrubar o dólar ante os emergentes. Nesta sexta, a moeda americana perdeu para 17 de 24 divisas emergentes.

O dólar fechou o dia em queda de 1,87%, a R$ 3,7740, no menor valor em um mês.

Para analistas, o novo patamar do dólar não deve se manter daqui para a frente.

“É difícil imaginar que tenhamos muitos dias favoráveis como os de hoje [ontem]. Tudo pela frente indica que a gente ainda vai ter dólar forte no exterior, que esses alívios são temporário­s”, disse Ignacio Crespo, da Guide Corretora.

Entre os emergentes, o real foi a moeda que mais se valorizou nesta sexta.

Investidor­es atribuíram o movimento ao cenário político. Na quinta (19), partidos do chamado centrão —DEM, PP, PR, PRB e SD— chegaram a um entendimen­to para apoiar Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidênci­a. Não há acordo formal selado.

Para o mercado, o maior tempo de TV que viria da coligação ajudaria a aumentar a exposição do tucano, elevando as chances de ele crescer na preferênci­a dos eleitores.

Segundo a pesquisa Datafolha mais recente, publicada em 10 de junho, Alckmin tem entre 6% e 7% das intenções de voto, conforme o cenário. Sem Lula (PT), preso desde abril, a corrida eleitoral é liderada por Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede).

Entre eles, Alckmin é visto pelo mercado financeiro com o mais propenso a conduzir reformas, como a da Previdênci­a, que eles consideram essenciais para a economia do país.

“A notícia mostra para o mercado que candidatos que não vinham apresentan­do um programa de reformas estruturan­tes, um discurso de que o investidor gosta, podem perder força”, afirma Alvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais.

O otimismo do mercado com a possibilid­ade de Alckmin avançar fez a Bolsa brasileira descolar do exterior e subir mais de 1%.

O Ibovespa, principal índice acionário do país, ganhou 1,40%, a 78.571 pontos. A alta foi impulsiona­da pelos papéis da Petrobras e do setor financeiro, com maior peso no índice. Na semana, a alta de 2,6%.

No exterior, os índices americanos fecharam perto da estabilida­de, enquanto a maioria das Bolsas europeias fechou no vermelho.

A animação poderá ceder mais uma vez espaço para as incertezas típicas do período eleitoral, que devem deixar o mercado financeiro volátil na próxima semana.

Após o fechamento do mercado, Paulinho da Força (SD), um dos líderes do centrão, ameaçou o acordo e reabriu negociaçõe­s com Ciro.

“O acordo está sendo dado como certo, mas a oficializa­ção é uma questão”, disse Crespo antes mesmo da oposição de Paulinho da Força.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que nesta sexta-feira voltou a criticar o Fed
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