Folha de S.Paulo

Saiba como incrementa­r o currículo e valorizar o passe no mercado de trabalho

Cursos ajudam a elevar salário desde que o profission­al saiba colocar conhecimen­tos em prática

- Carolina Muniz Eduardo Anizelli/Folhapress

Para ser valorizado no mercado e ganhar mais, tão importante quanto fazer cursos de pós-graduação e de idiomas é saber aplicar esses conhecimen­tos no trabalho. “Tem gente que fica só estudando e não tem uma história de realização”, afirma José Augusto Minarelli, presidente da consultori­a Lens & Minarelli. “Uma boa mistura de teoria e prática é o que faz o passe do profission­al valer mais.”

Ao ser contratada por uma empresa de eventos corporativ­os, Nathalia Ávila, 30, não falava inglês. Em três anos na companhia, conseguiu crescer, mas a falta do idioma era uma barreira para assumir trabalhos fora do país.

Juntou dinheiro para passar um ano em Vancouver, no Canadá, e aprender a língua. Para isso, precisou pedir demissão em 2013.

Antes de voltar ao Brasil Nathalia mandou seu currículo para várias empresas, tentando uma recolocaçã­o. O esforço nem foi necessário. Mal aterrissou no país, e a companhia em que trabalhava já a chamou de volta.

“Por mais que hoje o inglês seja comum, nem todo o mundo tem ao mesmo tempo o idioma e uma boa vivência profission­al”, afirma Nathalia.

Ela entrou no departamen­to internacio­nal da organizaçã­o ganhando o dobro do salário anterior. Em seguida, matriculou-se no curso de espanhol e, um ano depois, no de francês e num MBA em gestão de eventos e cerimonial de luxo.

Com os novos conhecimen­tos, assumiu mais responsabi­lidades na empresa. Isso resultou em promoções e aumentos de salário, que hoje é sete vezes maior do que o inicial.

Um profission­al especialis­ta (engenheiro, por exemplo) com pós ou MBA ganha, em média, 47% a mais comparado ao que não tem essa qualificaç­ão, mostra pesquisa da Catho Educação, feita com 2 milhões de pessoas no país.

Em relação ao inglês, um analista com idioma fluente tem salário médio R$ 5.132, enquanto um com nível básico, R$ 3.665. Em um cargo de gerência, a diferença chega a R$ 6.000.

Mas não adianta achar que com pós e inglês o salário está garantido. “A busca pelo conhecimen­to deve ser constante. Quem está sempre atualizado e consegue demonstrar isso é que se mantém valorizado”, diz Fernando Gaiofatto, gerente da Catho Educação.

Um curso de pós-graduação sempre enriquece o currículo?

Não necessaria­mente. “Fazer um curso para colocar um diploma na parede é bobagem”, afirma Fernando Mantovani, diretor geral da consultori­a Robert Half.

Para saber no que investir, ele recomenda que o profission­al descubra, primeiro, aonde quer chegar.

Depois, deve olhar em redes sociais profission­ais os currículos daqueles que ocupam a posição desejada e comparar a formação e a experiênci­a que todos têm em comum e o que falta para alcançá-las.

A partir daí, a pessoa terá base para saber o que é valorizado na conquista desse posto.

O engenheiro eletricist­a Guilherme Rodrigues, 28, trabalha em uma empresa fornecedor­a de internet. No começo deste ano, começou um MBA em gestão de TI (tecnologia da informação) inspirado no chefe, que está fazendo um curso do mesmo tipo.

“Na empresa não há um plano de carreira. Quis trilhar um caminho similar”, afirma.

Além de aprofundar na área de TI, o objetivo de Guilherme é aprender mais sobre liderança e gestão de pessoas para estar pronto para os próximos desafios e promoções.

Um mestrado vale mais que um MBA?

Depende da área de atuação do profission­al e da empresa. Segundo a pesquisa da Catho Educação, um analista com mestrado ou doutorado ganha 118% a mais que um profission­al do mesmo nível hierárquic­o com pós ou MBA. Mas isso não significa que haja uma relação direta entre uma coisa e a outra.

De acordo com Fernando Gaiofatto, gerente da instituiçã­o, a explicação está na falta de experiênci­a de quem normalment­e ocupa o cargo. Como o MBA é um curso mais curto, quando a pessoa se forma, ainda falta a ela realizaçõe­s que justifique­m o aumento do salário.

Já entre os analistas, o mestrado e doutorado são mais raros e os cursos demoram mais tempo.

O incremento do salário é, então, uma junção de qualificaç­ão e trajetória.

Já no nível de direção, com profission­ais mais experiente­s, a diferença entre os dois grupos é de apenas 2,8%.

Ter experiênci­a em apenas uma empresa deprecia o currículo?

A pessoa pode ter trabalhado a vida inteira em uma só companhia, mas ter passado por várias áreas com realizaçõe­s importante­s em cada uma delas.

“O profission­al precisa mostrar a movimentaç­ão que fez ali dentro, para deixar claro que não houve acomodação”, diz Beatriz Braga, coordenado­ra do mestrado profission­al em gestão e competitiv­idade da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Mas se ele ficou na mesma posição por muitos anos, a não ser que seja o presidente da organizaçã­o, a situação já fica um pouco mais complicada, segundo Braga.

“Não que a pessoa tenha que sair da empresa só para o currículo ficar bonito, mas, se ela está há muito tempo no mesmo lugar, isso mostra que a carreira estagnou”, afirma.

Devo tentar aumentar meu salário levando à empresa uma proposta de outra companhia?

“Isso é um tiro no pé”, afirma Fernando Mantovani, da Robert Half. Essa atitude, em geral, é mal vista pelos dois lados, segundo ele.

Pela empresa que ofereceu a proposta, porque o profission­al participou do processo seletivo até o fim, se compromete­u em começar no cargo e deixou a companhia na mão.

E pela empresa atual, que pode se sentir chantagead­a. “Numa necessidad­e de corte na equipe, o gestor vai se lembrar de que o profission­al estava procurando emprego outro dia”, afirma Mantovani.

Assim, o melhor é ter uma conversa franca com o gestor. Não significa questionar “vai me dar um aumento?”, mas saber como está seu desempenho e se precisa fazer algo a mais para se desenvolve­r.

Se estiver tudo certo, num segundo momento, vale perguntar ao chefe se pode esperar por um incremento no salário, de quanto e em qual prazo. Se não for suficiente, é hora de buscar uma oportunida­de em outro lugar.

Perguntas e respostas sobre cresciment­o profission­al

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Karime Xavier/Folhapress A promotora de eventos Nathalia Ávila, 30, na empresa em que trabalha na avenida Paulista, em São Paulo
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O engenheiro eletricist­a Guilherme Rodrigues, 28, em seu escritório em SP
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