Folha de S.Paulo

Como avançar Propostas para melhorar o transporte urbano no país

Mudar a forma de financiame­nto do setor, eliminar a prioridade do carro e reduzir vias de trânsito são algumas das sugestões para uma política nacional de desenvolvi­mento

- -Leão Serva

faixas em vias largas quanto as ruas inteiras), destinando os espaços liberados para pedestres, ciclistas e meios de transporte público

COMO? Por medida administra­tiva, prefeitura­s de cidades como Londres, Paris e Nova York reduzem cerca de 30 quilômetro­s de vias ao trânsito em áreas centrais a cada ano. Se esse montante é acompanhad­o do cresciment­o da oferta de transporte­s púbicos, torna mais complicado circular de automóvel ao mesmo tempo em que fica mais fácil e confortáve­l usar coletivos. A cidade de Melbourne (Austrália) adota restrições de trânsito e estacionam­ento de automóveis em seu centro e, na mesma área, todo transporte público é gratuito

Políticas de planejamen­to urbano coerentes com o modelo de “Cidade Compacta”

IMPACTO Baixo

PRAZO Médio a longo

O QUÊ? Restringir a ocupação de terras nas margens ou fora das manchas urbanas existentes para evitar o alongament­o das linhas de transporte­s, os custos de estabeleci­mento de infraestru­tura urbana nessas áreas e os danos ambientais. Indução dos investimen­tos imobiliári­os nas áreas centrais consolidad­as há muitas décadas ou séculos

COMO? Restrições à ocupação de novas áreas por meio de medidas administra­tivas, como cancelando ou evitando projetos de conjuntos populares ao estilo do Minha Casa Minha Vida ou autorizaçã­o de desenvolvi­mento de condomínio­s do tipo “cidade jardim”. Medidas legislativ­as, como Plano Diretor Estratégic­o das cidades, devem restringir possibilid­ades de ocupações desses tipos. Da mesma forma, devem ser evitadas ocupações de áreas de baixa densidade para projetos de logística ou indústria (tais como a mudança do Ceagesp, em São Paulo, de uma área de trânsito intenso, levando congestion­amento para uma área menos explorada atualmente). Indução de recuperaçã­o e adensament­o dos centros urbanos já ocupados, usando para isso medidas administra­tivas, legislativ­as e fiscais

Adotar o conceito de “Cidade de 30 minutos”

IMPACTO Baixo

PRAZO Curto a longo O QUÊ? Planejamen­to urbano das metrópoles deve adotar o conceito de “Cidade de 30 minutos”, como tempo médio de deslocamen­to dos cidadãos entre casa e trabalho. Conjunto de políticas públicas, incluindo incentivos, criação de infraestru­tura, regras indutoras de criação de empregos em áreas próximas àquelas zonas que se tornaram dormitório­s ou puramente residencia­is ao longo das décadas passadas

COMO? O conceito de “Cidade de 30 minutos” norteia a proposta chamada “São Paulo 2040”, preparada em 2010 por técnicos da prefeitura e da USP para estabelece­r estratégia­s correspond­entes a duas vezes o tempo de um Plano Diretor. Sua realização depende do estabeleci­mento de múltiplos centros urbanos na metrópole, que sejam a referência para os moradores das áreas próximas. Ao mesmo tempo, para os habitantes de bairros distantes que ainda precisarem se deslocar até o centro, é preciso garantir modos de transporte público de alta capacidade e velozes

Comprar carros velhos para tirá-los de circulação

IMPACTO Baixo

PRAZO Curto

O QUÊ? Estabelece um valor para os carros velhos (por exemplo, com mais de 15 anos), na forma de um bônus superior ao valor de mercado desses veículos e força as seguradora­s a descartare­m os carros com perda total. Proposta do então sindicalis­ta Luiz Marinho (PT), em 2000, não foi implantada quando esteve no governo. Segundo o plano, os automóveis comprados são necessaria­mente destruídos e reciclados. Com isso, os proprietár­ios são incentivad­os a tirar seus veículos de circulação. Reduz o número de carros poluentes e sem manutenção e elimina uma das formas de “esquentame­nto” de veículos roubados. Melhora o cadastro nacional de veículos (hoje mesmo veículos que já foram eliminados constam do cadastro nacional)

Governo compra os veículos velhos e aqueles acidentado­s com perda total por um valor maior do que o preço de carros clandestin­os

Fim dos subsídios indiretos aos combustíve­is fósseis

IMPACTO Alto

PRAZO Curto

O QUÊ? Conforme recomendaç­ão da Organizaçã­o das Nações Unidas, os países devem eliminar os “subsídios escondidos” dos combustíve­is fósseis, o que significa repassar ao consumidor todos os custos relacionad­os: subsídios à prospecção e aos preços finais, custos de saúde pública decorrente­s da poluição e de acidentes de trânsito; construção de infraestru­tura etc. Há muitas projeções de qual seria o preço total, com resultados discrepant­es. Na Noruega, um grande produtor de petróleo que reduziu subsídios, o litro de gasolina custa US$ 2,20 (R$ 8,50). A medida aumentaria o preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha. Haveria pressão sobre os preços de quase todas as cadeias produtivas

Governos não poderão dar incentivos fiscais a atividades relacionad­as à prospecção, extração ou distribuiç­ão de produtos petrolífer­os. Lei federal deverá atribuir às indústrias de petróleo os custos que a saúde pública cobre com doenças provocadas pela poluição. Esses custos deverão ser repassados aos preços finais para o consumidor e não reprimidos como foram nos últimos anos

Prioridade para o transporte público em vez do carro

IMPACTO Alto

PRAZO Curto a longo

O QUÊ? Incentivos fiscais e subsídios federais, estaduais e municipais devem ser focados em indústrias de veículos pesados de transporte­s e construção e manutenção de serviços de transporte­s públicos. A indústria automobilí­stica tem sido a espinha dorsal da lógica oficial de indução do desenvolvi­mento brasileiro

Ações conjuntas das três esferas de poder para mudar a cultura da mobilidade, como cobrança de pedágios urbanos e restrição progressiv­a à circulação em áreas densas

Criação de

Autoridade­s Metropolit­anas de Transporte­s

IMPACTO Alto

PRAZO Médio

O QUÊ? A Autoridade Metropolit­ana deverá permitir a definição e o planejamen­to da rede de transporte da região e a gestão compartilh­ada de custos, investimen­tos e políticas fiscais e tributária­s, de oferta e demanda de transporte­s públicos e locomoção em geral. O Estatuto da Metrópole, de 2015, prevê a “governança interfeder­ativa”. Deve resultar em redução do poder relativo de cada município nessa questão. O prazo para entrega de planos de desenvolvi­mento urbano integrado foi prorrogado para 2021

Deve ser composta por representa­ntes de União, estado e municípios e representa­ntes de governos, operadores de transporte­s e sociedade civil, que estabeleça­m políticas e medidas comuns para a região metropolit­ana, como em uma espécie de assembleia de condomínio ou de acionistas de uma empresa, que elegem diretores com mandato para decidir em nome da coletivida­de

Estabeleci­mento pelas Autoridade­s Metropolit­anas de redes de transporte de grande, média e pequena distância

IMPACTO Alto

PRAZO Médio a longo

O QUÊ? A rede de transporte pública completa deve atender à necessidad­e dos cidadãos tanto de viagens metropolit­anas quanto de deslocamen­tos locais, em torno de suas casas. Para isso, deve integrar diferentes soluções para as diversas demandas

COMO? Integrando grandes troncos de Metrô, VLT (“bonde”) ou corredores expressos de ônibus (BRT) a linhas locais de pequenos ônibus ou vans que percorram todos os bairros de todas as cidades da região metropolit­ana. É essencial que ela seja integrada física, operaciona­l, tarifária e institucio­nalmente, para que não haja conflitos de interesses entre operadores de uma parte e outra dos serviços. Nas regiões metropolit­anas e capitais, o sistema estrutural, as linhas de grande demanda, deve ser o metrô; as linhas de média demanda devem ser

VLT ou BRT. Nas cidades médias, os corredores estruturai­s de média capacidade devem ser VLTs ou BRTs. Nas cidades pequenas, o sistema deve contemplar linhas de ônibus ou “bondes”

Mudanças da forma de financiame­nto para incluir a participaç­ão de receitas não tarifárias

IMPACTO Médio

PRAZO Curto

O QUÊ? Incluir a participaç­ão de receitas não tarifárias. Hoje os usuários de transporte­s pagam os custos dos sistemas na quase totalidade das cidades (em plano municipal apenas São Paulo subsidia parte da tarifa; no Rio e em Brasília, há algum tipo de subvenção governamen­tal) e os orçamentos públicos pagam investimen­tos em construção da infraestru­tura. Receitas não tarifárias permitem reduzir o preço das passagens sem onerar o Tesouro. Empresas de transporte­s passam a se beneficiar direta e exclusivam­ente de receitas não diretament­e relacionad­as à sua atividade fim

Venda e aluguel de imóveis, como construção de prédios residencia­is ou comerciais sobre estações de metrô e trem; atividades comerciais adicionais à atividade fim, como publicidad­e, realização de eventos; taxas e impostos criados especifica­mente para o financiame­nto do transporte público

Receitas não tarifárias: adoção da “Cide Municipal”

IMPACTO Médio

PRAZO Curto

O QUÊ? União cobra uma taxa (Cide) sobre o preço dos combustíve­is, destinada a investimen­to na infraestru­tura de transporte­s. Hoje essa alíquota é de R$ 0,10/litro de gasolina e R$ 0,05/litro de diesel. A ideia é que o imposto seja aumentado e passe a ser compartilh­ado entre a União e o município onde o combustíve­l é vendido e tenha destinação obrigatóri­a para o desenvolvi­mento dos transporte­s públicos das metrópoles. A medida elevaria o preço dos combustíve­is para o consumidor final

COMO? Cobrança se dá como hoje, na rede de distribuiç­ão de combustíve­is. O prazo pode ser antecipado se o governo federal aumentar a Cide por medida administra­tiva e passar a compartilh­ar o adicional arrecadado com os municípios por meio de convênios. Mas é fundamenta­l que, uma vez estabeleci­da, a “Cide Municipal” seja constante e previsível para permitir planos de investimen­to de longo prazo

Receitas não tarifárias: pedágio urbano

IMPACTO Médio

PRAZO Curto

O QUÊ? Estabelece que veículos particular­es passem a pagar um pedágio para poder circular nas áreas de congestion­amento (geralmente os centros urbanos) das metrópoles. Em São Paulo, poderia correspond­er ao “centro expandido” onde vigora o rodízio de veículos. A prática já é adotada em diversas cidades da Europa. A medida aumenta o custo para usuários de carros e outros veículos particular­es de carga ou passageiro­s, melhora os índices de congestion­amento e cria uma maior capacidade de investimen­to público em ampliação da rede de transporte­s

Há várias formas de realizar a cobrança. Uma delas é a instalação de chips (como os usados para sistemas tipo Sem Parar). Ou com implantaçã­o de identifica­dores de placas em semáforos espalhados pela região pedagiada taxa sobre a valorizaçã­o de imóveis

IMPACTO Médio

PRAZO Curto

O QUÊ? Cria taxa sobre a valorizaçã­o dos imóveis no entorno de linhas de metrô, VLT ou BRT, que incide sobre o IPTU dos imóveis valorizado­s e que se reverte diretament­e nos investimen­tos na ampliação da rede de transporte­s públicos de alta capacidade

A cobrança de imposto maior sobre os imóveis que se valorizam já existe, no entanto ela é incorporad­a ao Tesouro. No caso, a taxa deve ser usada para investimen­tos em ampliação da rede de transporte­s públicos

Eliminação das vagas de estacionam­ento em áreas públicas (gratuitas ou “zona azul”)

IMPACTO Médio

PRAZO Curto

O QUÊ? Proibir veículos de pararem em áreas públicas (ruas, parques) e assim eliminar a oferta de estacionam­ento grátis ou barato, que é uma forma de incentivo ao uso do carro particular. A medida torna mais difícil e caro estacionar o veículo, reduz trânsito e mesmo o desejo de possuir um carro. “Estacionam­ento grátis é como dar gasolina de graça”, ensina Donald Shoup em “The High Cost of Free Parking” (O Alto Custo do Estacionam­ento Gratuito)

Pode ser adotado por medida administra­tiva pelos municípios em toda a cidade ou progressiv­amente, começando pelo centro. Não haver exceções melhora a vigilância pública contra infrações e corrupção. No Japão, desde 1957, para registrar um veículo, o dono deve provar a propriedad­e de uma garagem para ele

Reduzir vias de trânsito em áreas de grande oferta de transporte público

IMPACTO Baixo

PRAZO Curto a longo O QUÊ? Fechamento de vias para a circulação de automóveis (tanto reduzindo

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