Folha de S.Paulo

Viúva e com filhos crescidos, foi viajar e aproveitar a vida

VILMA RANGEL SERDEIRA (1945-2018)

- Thaiza Pauluze

Vilma nasceu num sítio em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Formou-se professora de educação infantil, mas passou longe da carteira assinada. Aos 20 e poucos já era casada e tinha tido filho.

Assumiu todas as responsabi­lidades domésticas enquanto o marido, da Marinha, passava os meses embarcado. Era mãe e pai das duas crianças.

Por isso, Vilma dizia não ter tempo para mais nada —nem mesmo aulas de pilates, insistênci­a constante da família. É que a matriarca não podia ver bagunça, queria manter tudo sob controle. Também era dessas que não jogava nada fora. Passava o café, sempre adoçado, em saco de pano e bule de alumínio vindo do enxoval de casamento, todo remendado de durepoxi.

Há dois anos, viúva e sem os filhos e o neto sob o mesmo teto, acharam que Vilma entraria em depressão. Mas ela virou tudo de cabeça para baixo. Parou de se incomodar com poeirinhas no chão e de cozinhar todo dia. Se jogou em viagens. Conheceu Porto Seguro (BA), Foz do Iguaçu (PR), várias cidades mineiras.

Ainda quis aprender novas tecnologia­s, às quais chamava de brinquedin­ho —nada fazia ela pronunciar corretamen­te a palavra tablet. Nas redes sociais, mandava bem, menos quando perdia a conexão wifi. Na nova agenda, Vilma marcou uma viagem para Maceió no dia seguinte à formatura do neto Matheus. Quando voltasse, já iria a Santa Catarina conhecer a primeira bisneta, recém-nascida. Depois, partiria para a Europa.

No dia da festa, se divertiu como nunca. “Está tudo tão lindo. Se tivesse que morrer hoje, eu morreria feliz”, disse. No fim da noite, quebrou o calcanhar e descobriu que teria que operar e ficar semanas de molho. Para a família, a carga emocional foi demais e Vilma teve um derrame. Morreu no dia 16 de julho, aos 73. Deixa um irmão, dois filhos, seis netos e uma bisneta.

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