Folha de S.Paulo

Neymar, o pai

Comportame­nto dele com repórter dá a medida exata de quem ele é

- Juca Kfouri Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

O fato: Neymar pai era o único familiar de jogadores hospedado no mesmo hotel da seleção brasileira em Sochi, o Swissôtel, durante a Copa do Mundo.

Três fontes diferentes afirmaram à repórter Camila Mattoso, da Folha, que familiares dos jogadores da equipe de Tite se queixaram ao coordenado­r técnico da CBF (Confederaç­ão Brasileira de Futebol), Edu Gaspar, de que, no hotel da seleção, o pai do camisa 10 da equipe teria feito uma festa depois do jogo contra a Suíça.

O que fez ela, responsáve­l que é?

Partiu para apurar a veracidade do que lhe contaram. Ao apurar, ouviu mais. Ouviu que Neymar pai, irritado com reclamação de Gaspar, o ameaçou, ao recomendar que ele ganhasse a Copa do Mundo porque em caso contrário seria substituíd­o por Alexandre Mattos, diretor de futebol do Palmeiras e amigo do genitor da maior estrela do futebol nacional.

A repórter falou com Gaspar, que desmentiu ter recebido a ameaça.

Faltava perguntar ao principal protagonis­ta.

Ela perguntou se ele tinha dado alguma festa e, diante de sua irritação com a pergunta, gravou a parte final da conversa (o áudio do diálogo entre os dois pode ser ouvido em folha.com/sc52wl69) —e o avisou que estava gravando: “Cidadã. Não te dei meu telefone, não conheço você, não sei quem é você. Você não tem o direito de ligar para mim. Agora, você está me abordando com uma pergunta dessas? Eu não fiz festa nenhuma, deu para você entender? Quero saber quem é o mentiroso e se você quer vender jornal?”, disse Neymar pai.

“A festa que eu fiz foi com a sua mãe”, gritou, ofendendo a repórter, que, calmamente, seguiu perguntand­o se ele confirmava a suposta festa e lhe dizia que bastava ele dizer sim ou não.

“Eu estava com a sua mãe lá. Eu fiz a festa com a sua mãe”, seguiu aos gritos Neymar pai.

“Estou te respondend­o, estava a sua mãe, seu pai, quem você quiser”, continuou.

Impossível afirmar que houve a festa, apesar da reação desproporc­ional, pois bastaria negar numa conversa civilizada, embora exista quem tenha visto um grupo de mulheres indo para sua suíte.

O que fica muito claro é como se comporta o mentor do principal jogador do país.

E como não faz o menor sentido que a CBF lhe dê privilégio­s.

Fazer festas é direito dele, vender o filho para o Barcelona dias antes da final do Mundial de Clubes também, apesar de condenável.

Comportar-se como agiu com a repórter dá a medida de quem ele é.

Ainda mais porque ela só queria ouvir o outro lado.

Como é direito do outro lado e se exige no jornalismo.

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