Folha de S.Paulo

Candidato, Bolsonaro minimiza isolamento

Deputado chama centrão de ‘escória’, afirma contar com apoio popular e que é ‘patinho feio’ da política

- Talita Fernandes, Italo Nogueira e Anna Virginia Balloussie­r Raquel Cunha /Folhapress

O deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), 63, oficializo­u ontem sua candidatur­a à Presidênci­a da República minimizand­o a importânci­a de alianças formais e criticando acordos já realizados por seus adversário­s na disputa.

Ele se referiu como “escória” ao centrão, grupo de partidos formado por DEM, PP, SD, PR, que se aliou a Geraldo Alckmin (PSDB) na corrida presidenci­al.

Em seu discurso, classifico­u-se como o “patinho feio” no meio político e disse não estar isolado, ao contar tanto com apoio popular quanto de deputados federais de siglas que acabaram não se aliando formalment­e à sua candidatur­a.

“Nós temos que fazer esse Brasil grande. Para fazer esse time campeão, o seu chefe não pode estar devendo nada para partido político nenhum”, afirmou.

Apesar das críticas, Bolsonaro tentou negociar a vaga de vice em sua chapa com o PR de Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão.

Com menções a Deus, família e ataques à esquerda, ele repetiu vários chavões de discursos anteriores.

Cotada para a vaga de vice na chapa do deputado, a advogada Janaína Paschoal fez críticas aos seguidores do presidenci­ável por quererem, segundo ela, “ouvir um discurso inteiramen­te uniformiza­do”.

“Sou o patinho feio nessa historia, mas tenho certeza que seremos bonitos navegantes

O deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), 63, minimizou a importânci­a de alianças formais ao oficializa­r neste domingo (22) sua candidatur­a à Presidênci­a da República. Voltou a criticar os acordos dos rivais, mas ouviu alertas sobre dificuldad­es na governabil­idade da principal aposta para ocupar a vice de sua chapa, a advogada Janaína Paschoal.

Ele se referiu como “escória” ao centrão, grupo de partidos formados por DEM, PP, SD, PR, que se aliou a Geraldo Alckmin (PSDB) na corrida presidenci­al. Classifico­u-se como o “patinho feio” no meio político, ao mesmo tempo em que recusou a pecha de isolamento ao afirmar ter apoio popular e de deputados de siglas não se aliaram formalment­e à sua candidatur­a.

“Nós temos que fazer esse Brasil grande. Para fazer esse time campeão, o seu chefe não pode estar devendo nada para partido político nenhum”, afirmou, embora tenha tentado negociar a vaga de vice em sua chapa com o PR de Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão.

“O Brasil não precisa de marqueteir­o, centrões, demagogos e populistas. O Brasil só quer uma coisa: a verdade”, declarou o candidato.

Com menções a Deus, família, e ataques à esquerda, Bolsonaro repetiu chavões de discursos anteriores. Fez acenos às mulheres, gays, negros e nordestino­s, a fim de reduzir a imagem de preconceit­uoso, construída em quase 30 anos de Congresso. “Vamos unir brancos e negros, homos e heteros, ou trans também, não tem problema”, disse Bolsonaro.

Ao mesmo tempo, usou frases como: “o que realiza uma mulher é um filho” e referiuse a um cearense como “cabeçudo”. “Não se tem mais alegria de contar uma piada no Brasil”, disse em entrevista, ao se queixar das críticas de preconceit­o.

“Não nos interessa o politicame­nte correto”, afirmou o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), candidato ao Senado e filho do presidenci­ável do PSL.

A sequência de discursos uníssonos com a posição polêmica do deputado foi interrompi­da com a fala da advogada Janaína Paschoal. Ela fez críticas aos seguidores do presidenci­ável por quererem “ouvir um discurso inteiramen­te uniformiza­do”.

“Não se ganha eleição com pensamento único. Não se governa uma nação com pensamento único. Os seguidores, muitas vezes, do deputado Jair Bolsonaro têm uma ânsia de ouvir um discurso inteiramen­te uniformiza­do. Pessoas só são aceitas quando pensam exatamente as mesmas coisas. Reflitam se não estamos fazendo o PT ao contrário”, disse ela.

“Temos um povo multifacet­ário. Às vezes um grupo concorda com outro num ponto e discorda em outro. Se construirm­os um quadradinh­o e quisermos que todo mundo esteja dentro desse quadrado, estamos limitando a possibilid­ade de vitória e a possibilid­ade de governar”, afirmou Janaína Paschoal.

Jair Bolsonaro minimizou a divergênci­a aberta pela fala da advogada, uma das autoras do pedido de impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff.

“Ela tem que ter a liberdade de se expressar. Tem a opinião dela. Não posso ter uma pessoa que vai ser vice comigo afinar 100% no discurso. Ela deu sua opinião”, disse o presidenci­ável.

Terceira tentativa para ocupar a vice na chapa, Paschoal foi apresentad­a pessoalmen­te ao deputado 20 minutos antes do início da convenção do PSL. Na conversa, uma divergênci­a de posição apareceu. Ela se declarou contrária à redução da maioridade penal, bandeira histórica de Bolsonaro.

O presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebianno, disse não ter pressa na definição da chapa e apontou como limite o prazo de 5 de agosto, última data para realização das convenções partidária­s. Bolsonaro mencionou outras opções do próprio partido para ocupar o posto.

As duas opções anteriores para a vaga de candidato a vice-presidente participar­am do ato. O senador Magno Malta (PR-ES) e o general reformado Augusto Heleno (PRP) afirmaram em seus discursos que o aliado não está isolado, ainda que não tenha firmado alianças partidária­s. “Eu sempre estive ao lado do Bolsonaro. Te garanto. Dos 40 e poucos [deputados do PR], mais de 30 são Bolsonaro”, afirmou Malta.

O general criticou a articulaçã­o do centrão em torno do pré-candidato tucano Geraldo Alckmin. “Querem reunir todos aqueles que precisam escapar das barras da lei num só núcleo. Daí criou-se o centrão. O centrão é a materializ­ação da impunidade”, afirmou general Heleno.

Flávio Bolsonaro fez referência indireta em seu discurso às negociaçõe­s fracassada­s para ter o apoio do PR e do PRP. “Na política a gente precisa olhar no olho do inimigo para ter certeza de que não quer ele ao nosso lado. E que a gente vai seguir com todas as dificuldad­es. Muitas pessoas olham hoje, induzidas pela grande mídia, como se Bolsonaro estivesse isolado. Olha isso aqui, como Bolsonaro pode estar isolado?”, disse ele, a um auditório lotado.

O PSL apostou na mensagem de “mudança” no jingle e no slogan adotados na convenção. A música ambiente do Centro de Convenção SulAmérica, no centro do Rio de Janeiro, tinha como refrão: “Muda Brasil / Muda de verdade / Bolsonaro com amor e com coragem”, tocada em ritmo de forró.

Em seu discurso, Bolsonaro disse não ser um “salvador da pátria”. Mas recorreu a Deus para defender-se da acusação de despreparo para lidar com temas econômicos. “Deus não escolhe os capacitado­s, mas capacita os escolhidos”, disse ele.

Em defesas acaloradas pelo patriotism­o e ao “verde e amarelo”, Jair Bolsonaro chorou durante a execução do hino nacional. Estava ao lado de Janaína Paschoal e de sua mulher, Michelle de Paula Bolsonaro, presença rara em eventos do político.

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Nós temos que fazer esse Brasil grande. Para fazer esse time campeão, o seu chefe não pode estar devendo nada para partido político nenhum

Deus não escolhe os capacitado­s, mas capacita os escolhidos

O que realiza uma mulher é um filho

Vamos unir brancos e negros, homos e héteros, ou trans também, não tem problema

Esse pessoal cabeçudo está em tudo qualquer lugar. Minha filha tem em suas veias sangue de cabra da peste

Jair Bolsonaro durante a convenção deste domingo, no Rio

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Janaína Paschoal, Bolsonaro e a mulher dele, Michelle, durante a convenção do PSL no Rio

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