Folha de S.Paulo

Leilão do centrão ensinou algo a todos candidatos

Os principais candidatos disputaram o apoio, e cada um teve um aprendizad­o

- Celso Rocha de Barros

O leilão do centrão foi instrutivo, e cada candidato aprendeu alguma coisa. Nos próximos meses, descobrire­mos se tempo de TV, estrutura partidária e dinheiro continuam funcionand­o do mesmo jeito em 2018.

Na semana passada aconteceu o leilão do centrão, bloco parlamenta­r que, em sua encarnação atual, compreende o DEM, o PP, o PRB, o Solidaried­ade e, dependendo do dia da semana, o PR.

Para entender o centrão, pense no seguinte: nas últimas décadas, houve alternânci­a de quem ia no Congresso subornar deputados: às vezes era o PT, às vezes era o PSDB. Mas quem recebia o suborno era sempre a mesma turma, o centrão. Só o MDB, que está em um nível de profission­alismo muito acima dessa turma toda, é que já esteve dos dois lados.

Com exceção de Marina Silva, todos os principais candidatos à Presidênci­a disputaram o centrão, ou pedaços dele: Bolsonaro, Ciro, Lula, Alckmin, todo mundo fez seu lance no leilão.

Não, não é porque todos esses presidenci­áveis gostem da companhia de corruptos. Como disse na coluna da semana passada, essa eleição acontecerá enquanto a Lava Jato está no meio: nenhum dos acusados está inelegível ( fora o Lula). Enquanto não estiverem, ainda têm poder, estrutura de campanha, apoios empresaria­is, tempo de TV. Os presidenci­áveis precisam disso tudo.

O leilão do centrão foi bastante instrutivo, e cada um dos participan­tes aprendeu uma coisa diferente.

Bolsonaro aprendeu a falta que faz ter um partido.

Jair perdeu o centrão quando se negou a fazer aliança com o PR no Rio de Janeiro. Se tivesse aceito, talvez o partido de Bolsonaro (o PSL) elegesse um ou dois deputados a menos, e o PR, um ou dois deputados a mais. O bolsonaris­mo não tem organizaçã­o sequer para sacrificar esses dois sujeitos e prometer-lhes compensaçã­o em caso de vitória na eleição presidenci­al. Um partido teria.

O PT aprendeu que a estratégia de insistir na candidatur­a de Lula dificulta muito atrair aliados. Por que o centrão se aliaria a uma chapa que ninguém sabe qual vai ser? Nem mesmo os aliados tradiciona­is de esquerda fecharam com Lula até agora. O PT ainda acha que manter Lula no centro do debate compensa esse preço pago em aliados perdidos. Veremos.

Ciro Gomes aprendeu que a bagunça do sistema político brasileiro tem lado.

Ciro teria ganho muito com uma aliança com o DEM. Além do tempo de TV, adquiriria lastro conservado­r suficiente para justificar uma moderação de seu discurso. Mas Ciro, que precisava também atrair votos de Lula, exagerou no discurso de esquerda nos últimos meses, e o centrão não gostou. Não, o centrão não é só fisiologis­mo: por ideologia ou por vontade de ir em festa de rico, o centrão é de direita, desde sua origem na Constituin­te.

Alckmin, que tem partido, tem chapa pronta, e é de direita, venceu o leilão.

Foi uma vitória fundamenta­l. Se o PSDB não tivesse vencido essa, estaria fora do páreo. Se esse tempo de TV não tivesse ido para Alckmin, poderia teria ido seus adversário­s diretos na disputa por uma vaga no segundo turno. Foi um jogo de seis pontos contra Bolsonaro, e o tucano venceu. A Bolsa de Valores, que gosta de Alckmin, subiu.

E agora começa o aprendizad­o de Alckmin, da Bolsa, de todos nós. Nos próximos meses, descobrire­mos se, afinal, isso tudo que sempre ajudou a decidir eleição no Brasil — tempo de TV, estrutura partidária, dinheiro para campanha— continua funcionand­o do mesmo jeito em 2018.

Pois durante todo o leilão da semana passada, ninguém sabia o quanto, exatamente, o

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