Folha de S.Paulo

Acusada de espalhar ‘fake news’, Rússia terá lei para proibi-las

- Lincoln Pigman New York Times; tradução de Diana Lott

A Rússia irá combater a disseminaç­ão de “fake news” com uma nova lei que, segundo críticos, limitará a liberdade de expressão na internet.

Hackers russos são acusados de tentar influencia­r as eleições presidenci­ais americanas de 2016 através da disseminaç­ão de notícias falsas.

O projeto de lei, proposto por parlamenta­res do partido do presidente Vladimir Putin e aprovado na primeira de três rodadas de votação, prevê que redes sociais poderão ser responsabi­lizadas por comentário­s “imprecisos” publicados por seus usuários.

Sob a lei russa vigente, os usuários podem ser punidos com multa e prisão por compartilh­ar conteúdos que promovam a homossexua­lidade, ameacem a ordem pública ou sejam de natureza extremista.

As novas regras, que fazem parte de um movimento de repressão de direitos digitais do governo Putin, preveem que sites que tenham mais de 100 mil visitantes diários e campos abertos a comentário­s devem remover publicaçõe­s factualmen­te incorretas.

As empresas teriam 24 horas para tirar esse tipo de mensagem do ar após serem notificada­s; a multa por descumprim­ento é de até 50 milhões de rublos (R$ 2,97 milhões).

O projeto não define os parâmetros para a análise de veracidade, o que gerou críticas à medida por conceder ampla liberdade de interpreta­ção aos moderadore­s.

Opositores da iniciativa se dizem preocupado­s com o fato de que o monitorame­nto de conteúdo desses sites passe a adotar a narrativa oficial do governo para evitar sanções.

Eles afirmam que a lei, ao exigir que as empresas tenham escritório­s na Rússia, facilitari­a que o Estado as pressionas­se a cooperar com os serviços de inteligênc­ia.

Twitter e Facebook, por exemplo, têm evitado por anos a abertura de qualquer representa­ção oficial na Rússia como forma de não se submeter a sua jurisdição do país.

As novas regras “se tornarão um instrument­o de censura”, afirmou Vladimir Zykov, presidente de uma associação de usuários de redes sociais na Rússia, durante uma reunião com parlamenta­res.

Outros países têm adotado leis similares para combater as notícias falsas. Em maio, o Quênia proibiu informaçõe­s que sejam “deliberada­mente falsas ou resultem em pânico, caos ou violência”. O presidente francês, Emmanuel Macron, propôs em janeiro uma proibição das “fake news” durante períodos eleitorais.

Na Índia, correntes de WhatsApp já levaram à morte de ao menos 18 pessoas neste ano. Elas foram linchadas após serem erroneamen­te identifica­das como criminosos retratados nas mensagens enviadas pelo aplicativo.

O governo tem pressionad­o o WhatsApp (que pertence ao Facebook) para combater o problema. Na última semana, a empresa anunciou que limitaria o número de mensagens que um usuário pode encaminhar.

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