Folha de S.Paulo

Excesso de custos é pior que proteção a indústria, afirma Fiesp

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O Brasil abre sua guarda, falando em abertura comercial, num momento em que negocia com União Europeia, Japão, Coreia do Sul e Canadá, diz o presidente em exercício da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), José Ricardo Roriz Coelho.

“A estratégia de negociação está errada, já que o mundo está tentando trazer de volta suas indústrias, reduzindo as importaçõe­s e passando a produzir internamen­te”, diz Roriz, num movimento de reação da indústria às investidas de governos e pré-candidatos em defesa da liberaliza­ção comercial.

Em resposta a isso, estudo da Fiesp busca mostrar que os efeitos da abertura comercial diferem de país para país e nem sempre significam cresciment­o econômico.

No Brasil, indica o estudo, o excesso de custos é maior do que a proteção em forma de barreiras, tarifárias ou não.

Nas contas da Fiesp, produzir no país é 30% mais caro do que em seus principais parceiros comerciais, o que torna as importaçõe­s mais competitiv­as. Além disso, enquanto boa parte da União Europeia e os EUA estão baixando a carga tributária para as empresas, o Brasil ainda não se mexeu.

“Ninguém está pedindo subsídios, mas condições iguais para competir”, diz Roriz.

Segundo o estudo, no indicador que mede o grau de abertura de uma economia —a corrente de comércio sobre o PIB (Produto Interno Bruto)— o Brasil (cujo nível é de 25,9%) está bem abaixo da Coreia do Sul (85%), mas fica ao lado de países como EUA e Japão. Já o nível das importaçõe­s brasileira­s em relação ao PIB é próximo ao de Argentina, EUA e Japão.

Dado o cenário, diz o estudo, não é possível relacionar de maneira automática renda e abertura comercial porque Japão e EUA têm indicadore­s de comércio parecidos com o brasileiro, mas renda elevada, enquanto o México e Indonésia têm nível de comércio elevado e renda baixa.

O estudo também tenta rebater levantamen­to do governo que cita o sucesso da abertura comercial em países como Chile, Paraguai e Uruguai —países pequenos que, segundo a Fiesp, não podem ser comparados ao Brasil.

O estudo aponta que países maiores tiveram desacelera­ção do cresciment­o após abertura comercial, algo que teria ocorrido com o próprio Brasil depois da abertura promovida pelo governo Collor, no início dos anos 1990.

“A sensação de bem-estar gerada pelo acesso a produtos de todo o mundo não significa aumento de renda da população, muito menos cresciment­o econômico”, diz Roriz.

A correlação, diz ele, seria entre renda e a fabricação de produtos sofisticad­os, em que o Brasil vem perdendo fôlego há 30 anos. Hoje, as compras de manufatura­dos respondem por 80% do total de bens importados.

Para Roriz, antes de pensar em abrir a economia, é preciso tornar os produtos brasileiro­s mais competitiv­os, equiparand­o a produção no país e fora dele. “Uma alíquota de importação com custo muito alto ou o câmbio fora do lugar terão impacto grande na balança comercial”, diz.

Roriz lembra que o país não aparece nas cadeias globais de valor, com exceção dos setores de óleo e gás, automotivo, de aviões e eletrônico­s.

“Quem diz que abrir mercado é bom porque vai elevar a complexida­de tecnológic­a deveria estar defendendo juro mais baixo, carga tributária menor, investimen­to em mão de obra, meios de reduzir a burocracia”, diz Roriz.

“Não é simplesmen­te abrir o mercado e trazer de fora o que agrega valor ao produto e só exportar minério de ferro, petróleo e produtos agrícolas de baixo valor agregado.”

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