Folha de S.Paulo

Ministros do G20 pedem mais diálogo frente a aumento de tensão comercial

Reunidos na Argentina, dizem que o comércio internacio­nal é motor de cresciment­o e emprego

- Sylvia Colombo Com agências internacio­nais

O documento final da terceira reunião de ministros da economia e presidente­s dos Bancos Centrais do G20 (grupo das 19 maiores economias do mundo e a União Europeia) usou uma linguagem mais contundent­e do que a dos encontros anteriores para pedir mais diálogo e mais comércio entre os países e que se acendam os alertas diante das ameaças que uma guerra comercial pode causar, principalm­ente nas economias emergentes.

A reunião, ocorrida neste sábado (21) e domingo (22) em Buenos Aires, ocorreu quando há uma escalada de retórica no conflito comercial entre os Estados Unidos e a China.

No documento, os ministros afirmam que o comércio internacio­nal e o investimen­to são importante­s motores de cresciment­o, inovação, criação de emprego e desenvolvi­mento. “Estamos trabalhand­o para fortalecer a contribuiç­ão do comércio a nossas economias”, concluem.

O texto diz que o cresciment­o econômico global continua robusto, mas menos sincroniza­do, e que aumentaram os riscos de curto e médio prazo. Entre eles, lista “as crescentes vulnerabil­idades financeira­s, o aumento das tensões comerciais e geopolític­as, a desigualda­de e o cresciment­o estrutural mais frágil, particular­mente em economias mais avançadas.”

Os EUA impuseram, em 9 de julho, tarifas de 25% sobre US$ 34 bilhões em produtos chineses. Depois, o presidente Donald Trump anunciou sanções adicionais de 10% sobre outros US$ 200 bilhões.

Na sexta (20), Trump aumentou ainda mais a tensão ao ameaçar tarifar todos os US$ 500 bilhões de exportaçõe­s chinesas para os EUA, a menos que Pequim concorde com grandes mudanças em sua política de transferên­cia de tecnologia, subsídios industriai­s e joint ventures.

O secretário internacio­nal do Ministério da Fazenda brasileiro, Marcello Estevão, disse que o país está preocupado porque a guerra comercial não envolve só a China e os EUA. “Todos nós podemos levar uma bala perdida quando há briga entre economias muito grandes. Há pouco, levamos uma bala perdida com a questão do aço”, afirmou.

“Estávamos em modo de escuta mútua e espero que este seja o começo de algo”, disse o comissário europeu para assuntos econômicos e financeiro­s, Pierre Moscovici, referindo-se às negociaçõe­s do G20. “Mas ainda assim as posições não são semelhante­s.”

O FMI advertiu que a guerra comercial atingirá o cresciment­o mundial, mas Washington disse que seguirá pressionan­do por um comércio mais “equilibrad­o” com a China, segundo o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin.

Ele tentou atrair Europa e Japão com ofertas de acordos de livre comércio, proposta rejeitada pela França —que disse que Washington deve abandonar suas tarifas antes de começar a negociar.

A UE insiste que a atual conjuntura só deixará “perdedores” pelo caminho. “O impacto das medidas protecioni­stas implementa­das foram, felizmente, limitadas até agora, mas o risco de uma escalada [desse impacto] está latente”, advertiu Moscovici.

“O protecioni­smo não é bom para ninguém. Não há vencedores, apenas vítimas”, disse.

Sobre os países emergentes, o G20 observou que essas economias estão mais bem preparadas para se ajustar aos choques externos, mas ainda enfrentam volatilida­des e reversões de fluxo de capital.

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