Folha de S.Paulo

Retrovisor ou bola de cristal

Se o passado não volta e o futuro é incerto, como decidir onde investir?

- Marcia Dessen Planejador­a financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”. marcia.dessen@gmail.com

Jota me escreveu com um simpático puxão de orelha. Ele concorda com o conselho de não investir olhando o rendimento passado, já que nada e ninguém garante que o rendimento dos próximos meses será o mesmo dos anteriores.

Se olhar para o passado não é uma boa ideia e ninguém tem bola de cristal para adivinhar of utu ro—esseéoXdaq­u estão —,“como escolher um fundo ou o título mais adequado para investir?”, pergunta Jota.

Vou tentar explicar o “como” me limitando às opções da renda fixa e usando os títulos públicos (Tesouro Direto) como exemplo. Começo lembrando que quem investe em renda fixa empresta dinheiro para alguém e recebe juros em troca.

A primeira decisão é, portanto, para quem emprestar dinheiro. O risco de calote existe (risco de crédito). Quanto maior a probabilid­ade, maior será a taxa de juros.

Nesse contexto, o exemplo dos títulos públicos é perfeito porque são considerad­os livres do risco de crédito. Assim, a taxa de juros que o Tesouro Nacional paga deve ser a mínima desejada pelo investidor.

Os títulos públicos (e privados) pagam três tipos de juros, e essa será a segunda escolha do investidor.

A pós-fixada acompanha a variação da taxa Selic. O retorno absoluto (7%, 8,2% ou 9%) só será conhecido ao final da operação, por isso taxa pós-fixada.

O título Tesouro Selic paga esse tipo de juros e será a escolha dos que querem ganhar a taxa de mercado, seja ela qual for. A rentabilid­ade desse título será sempre positiva.

O Tesouro Prefixado paga taxa de juros prefixada. Em 19 de julho esse título, com vencimento em 2025, pagava 11,12% ao ano. Quem acha (é aqui que entra a bola de cristal) que a taxa Selic média entre julho de 2018 e janeiro de 2025 será inferior tende a escolher esse título. Quem acha o contrário ou não acha nada há de preferir o Tesouro Selic.

Entre a data da compra e o resgate, esse título se valoriza se a taxa de juros desse vencimento (2025) cai e se desvaloriz­a se a taxa sobe. No vencimento o investidor receberá o que negociou (11,12% ao ano).

O Tesouro IPCA+ será a melhor escolha para proteger o capital contra a inflação. É um título mais longo que paga a variação do IPCA mais uma taxa de juros pré. Em 19 de julho esse título, com vencimento em 15/5/2035, pagava juros de 5,83% ao ano.

Entre a data da compra e o resgate esse título se valoriza se a taxa de juros (5,83%) desse vencimento (2035) cai e se desvaloriz­a se a taxa sobe. No vencimento o investidor receberá o que negociou (IPCA + 5,83% ao ano).

Os fundos, por sua vez, são classifica­dos conforme a política de investimen­to. Os fundos DI compram títulos de taxa pós-fixada. Os fundos Renda Fixa compram títulos de taxa pós ou pré. Ganham quando a taxa pré cai e perdem quando a taxa sobe.

Os fundos Renda Fixa Inflação compram títulos atrelados a índices de inflação. Como são mais longos, a volatilida­de se amplia, e os ganhos e as perdas também.

A escolha do título ou fundo mais adequado deve respeitar o objetivo, o horizonte de tempo, a expectativ­a em relação ao futuro (por mais difícil que isso possa ser) e o nível de tolerância a risco do investidor.

No Tesouro Direto o investidor escolhe os títulos sozinho. Nos fundos, essa responsabi­lidade é do gestor, observada a política de investimen­to do fundo.

Como não temos bola de cristal (nem os gestores têm), diversific­ar é sempre uma boa estratégia. Podemos não acertar todas, mas a escolha será coerente com nossas expectativ­as e não decidiremo­s às cegas.

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