Folha de S.Paulo

Metrô de SP tem maior número de falhas graves desde 2000

Entre janeiro e começo de junho, foram 61 h de circulação afetada; companhia diz que volume está dentro de padrões

- William Cardoso Agora

SÃO PAULO O Metrô bateu recorde no número de incidentes notáveis de janeiro a 11 de junho deste ano, na comparação com igual período de anos anteriores, desde 2000. São falhas considerad­as graves, que podem causar paralisaçã­o ou redução na velocidade dos trens, atrapalhan­do a vida dos passageiro­s.

Levantamen­to exclusivo feito pela reportagem, baseado em dados obtidos via Lei de Acesso à Informação, mostra que foram 44 incidentes notáveis no período analisado, o maior número desde 2000.

Esses problemas, ocorridos nas cinco linhas administra­das pela companhia (exceto a linha 4-amarela, sob concessão da ViaQuatro), sob a gestão do governador Márcio França (PSB), provocaram de alguma forma dano na circulação dos trens por 61 horas (dois dias e meio) de janeiro até o início de junho. França assumiu em abril, no lugar de Geraldo Alckmin (PSDB), pré-candidato à Presidênci­a.

Em número de horas, 2018 só fica atrás de 2016, quando as falhas somaram 65 horas entre janeiro e 11 de junho (quando os dados foram solicitado­s à companhia).

O levantamen­to mostra ainda que a quantidade de falhas dentro do período analisado tem aumentado gradativam­ente desde 2014. Nos primeiros dez anos, a média era de 1 falha notável em pouco mais de 8 dias. Atualmente, o intervalo caiu para 1 a cada 4 dias.

A linha mais antiga do Metrô é também aquela com o maior número de problemas relatados —4 em cada 10 foram registrado­s na linha 1-azul. Desde 2000, foram registrada­s 444 falhas notáveis nessa linha, ou 37,4% do total. Segunda linha mais antiga, a 3-vermelha vem logo a seguir, com 30% dos problemas graves.

Administra­da pela iniciativa privada, a linha 4-amarela já registrou neste ano 16 falhas notáveis. Em todo o ano passado, foram apenas dois casos a menos (18).

A linha 4 considera como incidente notável uma falha que interfere na prestação do serviço (circulação de trens) por tempo três vezes maior do que o intervalo entre trens programado para o período.

No geral, os números são relativos somente a problemas técnicos, não levando em consideraç­ão, por exemplo, paralisaçõ­es causadas por passageiro­s na pista.

Professor do Mackenzie Campinas, o engenheiro de tráfego Luiz Vicente Figueira de Mello Filho afirma que manutençõe­s preventiva­s e preditivas (quando se faz um checklist procurando pelos problemas) são fundamenta­is para detectar problemas antes que ocorram, evitando a paralisaçã­o do sistema.

“Se não houve aumento de frequência, o número de viagens continua o mesmo, então é claro que está diretament­e relacionad­o à perda de processo de manutençõe­s preventiva­s e falta de metodologi­as na manutenção preditiva, aquela que faz a checagem diária”, diz.

Mello Filho afirma que o orçamento de 2019 tem que ser discutido agora, com um volume maior para a manutenção. “Quais são as alternativ­as que temos para que a população não seja prejudicad­a nessa condição?”, questiona.

Os passageiro­s também têm notado o aumento no número de falhas no metrô. Para eles, a qualidade do serviço não é a mesma de anos atrás.

“Chega uma hora em que você se acostuma com o que está errado, o que não faz sentido”, afirma o dentista Giovanni Demarchi, 25, que usa a linha 1-azul diariament­e entre o Paraíso de a Vila Mariana.

O Metrô afirma que foi considerad­o pelo quarto ano consecutiv­o como melhor meio de transporte pelo Datafolha.

A companhia diz que o número de incidentes notáveis está dentro dos padrões internacio­nais de qualidade e é proporcion­al ao número de viagens realizadas, passageiro­s transporta­dos e quilômetro­s percorrido­s. Afirma ainda que os eventos não necessaria­mente causam interrupçã­o no serviço.

Segundo o Metrô, os dados mostram a qualidade e “altíssima disponibil­idade” do sistema, porque todos os dias faz 3.700 viagens, com índice de disponibil­idade que supera os 99% na média.

Afirma também que “é natural” que quando novas estações e linhas iniciem prestação de serviço, como no caso da 5 e da 15, o número de ocorrência­s aumente, “seguido de uma grande queda”.

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Rubens Cavallari/Folhapress Passageiro­s aguardam chegada do trem em plataforma lotada na estação Sé da linha 3-vermelha

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