Folha de S.Paulo

Sul-coreano terá nova chance para fugir do serviço militar

Após fracassar na Copa, Son Heung-min precisa do ouro nos Jogos Asiáticos

- Amanda Lemos e Marcelo Laguna

A participaç­ão da Coreia do Sul na Copa do Mundo da Rússia ficou marcada pela vitória sobre a Alemanha na fase de grupos —resultando na mais precoce queda do time europeu no torneio. Mas também pelo drama do atacante Son Heung-min, 26.

Após a derrota por 2 a 1 para o México, pela segunda rodada, o jogador deixou o campo aos prantos. Além da iminente eliminação de sua equipe, ele sabia que as chances de fugir do serviço militar, obrigatóri­o na Coreia do Sul, haviam diminuído considerav­elmente.

Na partida seguinte, contra a Alemanha, Son foi um dos destaques e marcou o segundo gol da heroica vitória por 2 a 0. O desempenho no torneio, porém, não foi suficiente para classifica­r a equipe às oitavas, meta que o governo sul-coreano havia estabeleci­do para que o atacante fosse liberado do serviço militar.

Mas ainda resta esperança para Son, que renovou na última sexta-feira (20) seu contrato com o Tottenham até 2023. Ele será liberado se conquistar o ouro nos Jogos Asiáticos, que serão disputados de 18 de agosto a 2 de setembro em Jacarta, na Indonésia.

A competição é o equivalent­e asiático aos Jogos PanAmerica­nos. Reúne 48 países da região e possui 54 modalidade­s esportivas. No torneio de futebol, é permitido que cada time inscreva até três atletas com mais de 23 anos. Além de Son, foram convocados nessa situação o goleiro Jo Hyeon-woo, 26, e o atacante Hwang Ui-jo, 25.

Um dia após o fim da Copa, Son foi liberado pelo Tottenham para se reintegrar à seleção sul-coreana que disputará a competição. Com isso, desfalcará o time no início da temporada na Inglaterra.

Na Coreia do Sul, o serviço militar dura de 21 a 24 meses e é obrigatóri­o para homens dos 20 aos 28 anos. Em alguns casos, como para pessoas que estudam ou trabalham fora do país, a obrigação com as Forças Armadas pode ser cumprida até os 35 anos. Cada situação é analisada individual­mente pelo governo.

No entanto, atletas com bons resultados —que ganham medalha olímpica ou ouro nos Jogos Asiáticos, por exemplo— são liberados.

A Coreia do Sul tem peso importante nos Jogos Asiáticos. Desde 1998, o país fica em segundo no quadro geral de medalhas, atrás apenas da China.

No futebol, o país conquistou o ouro na edição de 2014. Park Joo-ho, do Borussia Dortmund e Kim Jin-su, do Hoffenheim, estavam no time e foram liberados do serviço militar pelo feito. A seleção tem mais três medalhas de ouro, três de prata e três de bronze na competição continenta­l.

Para os jogadores de futebol existe ainda outra opção. A legislação do país permite que a prática de esportes seja validada como serviço militar para menores de 28 anos.

Para isso, o atleta deve atuar durante dois anos pelo Sangju Sangmu, time das Forças Armadas que faz parte da primeira divisão da liga sul-coreana, ou então no Asan Mugunghwa, da Associação Nacional de Polícia, que está na segunda divisão nacional.

O caso de Son é mais complexo. Ainda pela legislação, é necessário que o jogador dispute pelo menos uma temporada no país. Com isso, o jogador do Tottenham teria de se transferir ainda nesta temporada caso não seja liberado.

“O homem deve aprender a sociedade no exército. Quem não foi, nunca aprende. Esse é um ditado coreano”, diz o sulcoreano Park Seong-beom, 26. Estudante de língua portuguesa em São Paulo, ele serviu à polícia —que conta como serviço militar— aos 21 anos.

A experiênci­a na área militar é considerad­a uma honra no país. Homens que evitam ou tentam evitar o serviço obrigatóri­o são vistos como covardes pela sociedade.

Um caso emblemátic­o é o do atacante sul-coreano Park Chu-young, 33, que atuou pelo Arsenal de 2011 a 2014.

Em março de 2012, aos 26 anos, o jogador fixou residência na Europa e pediu o adiamento do serviço militar. A decisão foi muito criticada pelos sul-coreanos, que considerar­am o ato uma falta de patriotism­o e questionar­am a sua convocação para a seleção.

A polêmica só terminou quando ele deu entrevista coletiva se compromete­ndo a cumprir o serviço militar e se desculpand­o pela atitude.

 ??  ?? Son Heung-min, 26 Nascido em 8.jul.1992, em Chuncheon, o atacante começou a jogar nas categorias de base do FC Seul, mas, ainda aos 16 anos, foi para o Hamburgo (ALE). Passou também pelo Leverkusen antes de chegar ao Tottenham, em 2015
Son Heung-min, 26 Nascido em 8.jul.1992, em Chuncheon, o atacante começou a jogar nas categorias de base do FC Seul, mas, ainda aos 16 anos, foi para o Hamburgo (ALE). Passou também pelo Leverkusen antes de chegar ao Tottenham, em 2015

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