Folha de S.Paulo

Tite, erros e acertos

A avaliação sobre o desempenho do técnico da seleção brasileira na Copa

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

Você sabe que a coluna considerou injusta a derrota para Bélgica depois de um segundo tempo em que o time brasileiro fez, ao menos, por empatar num dos melhores jogos da Copa. Daqueles que ganhar ou perder depende muito mais de detalhes do que da real superiorid­ade de um time sobre o outro.

O goleiro Courtois teve atuação brilhante e a arbitragem não deu pênalti em Gabriel Jesus.

O próprio técnico dos belgas disse ter temido pela virada, num embate cujo primeiro gol nasceu da infelicida­de de Fernandinh­o num momento em que os brasileiro­s jogavam melhor e até bola na trave, com Thiago Silva, haviam posto.

Dito isso é preciso dizer que Tite exagerou ao manter Gabriel Jesus e retornar Marcelo num jogo em que, sabia-se, ao contrário dos quatro anteriores, a seleção seria atacada.

E Lukaku se esbaldou nas costas de Marcelo numa noite em que Casemiro estava suspenso e fez muita falta.

Tite deve ter aprendido, o que é mais uma razão para mantêlo, que em torneios curtos deve jogar quem estiver melhor.

Telê fez isso em 1986, é verdade, e nem por isso ganhou, apesar de trocar os aparenteme­nte intocáveis Oscar por Júlio César, na zaga, e Paulo Roberto Falcão por Elzo, no meio de campo.

Felipão não fez em sua segunda experiênci­a depois de vencer a Copa das Confederaç­ões e também perdeu.

Porque futebol está longe de ser ciência exata e a lealdade leva treinadore­s a morrerem abraçados com seus eleitos.

A trajetória de Tite no comando da seleção era tão perfeita que a insistênci­a com quem tinha sido parceiro na caminhada o levou ao erro de ainda manter Paulinho no time, outra vez decepciona­nte.

Seu maior equívoco nem foi esse, mas o de ser mais um a superprote­ger Neymar e fechar os olhos aos privilégio­s dados à sua família na concentraç­ão da seleção, incapaz de enquadrá-lo, do cabelo ridículo às simulações que sempre foram reprovadas pelo treinador em suas pregações éticas.

Por perfeito que fosse o comportame­nto do técnico, provavelme­nte a seleção cairia adiante quando enfrentass­e a França, algo que jamais saberemos —porque o Imponderáv­el da Silva, que favoreceu a Bélgica, poderia estar de camisa amarela contra os bleus.

Se Gabriel Jesus decepciono­u em sua primeira Copa e se Neymar, longe das condições físicas ideais, em sua segunda, também ficou devendo, nada impede que ambos se recuperem na próxima, assim como no repeteco de Tite ele poderá botar em prática tudo que fez de correto e corrigir o que os erros ensinaram.

A reação madura da torcida diante da eliminação permite que o técnico siga em frente com a consciênci­a de que não apenas o resultado deixou de ser o esperado, mas também o desempenho, com exceção do segundo tempo do jogo perdido.

Não apostar em quem não esteja 100% fisicament­e é boa lição numa competição vaptvupt e ter alternativ­as que até contrariem um padrão pré-determinad­o é outra, porque na hora da necessidad­e alguém diferente pode ser a solução.

A estrada é longa e o caminho repleto de obstáculos.

Pena que falte acima de Tite gente habilitada com quem possa dialogar para que os erros não se repitam, os acertos sejam aprimorado­s e a necessária autocrític­a seja feita com humildade e portas abertas.

De Tite para baixo não há por que mudar.

Dele para cima o deserto é desolador.

Ô Tricolor!

Sim, o São Paulo é candidato ao heptacampe­onato!

Pernas pro alto

A coluna volta em 2 de agosto porque ninguém é de ferro e é preciso parar um pouco para digerir as emoções mais recentes.

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