Folha de S.Paulo

Atitude é reflexo de radicaliza­ção

- Nelson de Sá

A ação do Facebook reflete sua radicaliza­ção ante as eleições em alguns mercados. O problema é atuar de forma mais indiscrimi­nada do que é capaz de reconhecer —e corrigir.

Nesta quarta (25), o Facebook anunciou cresciment­o de receita abaixo do esperado, no que foi avaliado como primeiro impacto financeiro das controvérs­ias que o perseguem desde a eleição de Donald Trump, em especial quanto às notícias falsas —e o que fazer para contê-las.

Como mostrou na semana passada a longa entrevista de seu presidente, Mark Zuckerberg, ao site Recode, a empresa está como biruta de aeroporto, com sinais conflitant­es sobre como editar o conteúdo político na plataforma.

Não à toa, embora continuem nos cargos, já anunciaram suas saídas o diretor de Segurança, Alex Stamos, o de Políticas Públicas e Comunicaçõ­es, Elliot Schrage, e agora o Jurídico, Colin Stretch, os três envolvidos diretament­e nos esforços desencontr­ados do último ano e meio.

No Brasil, a derrubada de quase três centenas de páginas e perfis vinculados à direita, assim como a checagem atropelada que abateu páginas à esquerda no último mês, reflete a radicaliza­ção momentânea do Facebook diante de eleições em alguns de seus maiores mercados.

A derrubada coincidiu com uma entrevista coletiva de executivos da plataforma, inclusive Diego Bassante, gerente de Política e Governo do Facebook na América Latina, para tratar das ações contra a “desinforma­ção” nas campanhas do México, do Brasil e dos próprios Estados Unidos.

Antes do pleito mexicano de 1º de julho, relatou Bassante: “Nós derrubamos dezenas de milhares de ‘likes’ falsos das páginas dos candidatos. Também derrubamos páginas, grupos e contas falsas que violavam nossos Padrões da Comunidade. E dezenas de contas que se passavam por candidatos”.

Já havia sido assim na eleição francesa, no ano passado, com supressão de usuários por atacado. Quando se vê na reta final, diante do risco de repetir o fiasco da eleição americana de 2016, a opção é por contra-ataque em larga escala, deixando de lado aqueles de caráter cosmético.

Talvez o maior problema, como se observa nas duas recentes intervençõ­es no Brasil, é que a plataforma acaba atuando de forma mais indiscrimi­nada do que é capaz de reconhecer —e, principalm­ente, corrigir. Sem editores, sem se aceitar como mídia, o Facebook não tem Erramos.

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