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Proibição de doações empresaria­is reduzirá gastos das campanhas presidenci­ais neste ano, mas ao custo de elevar o poder dos caciques partidário­s

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A conta da eleição

Sobre queda nas previsões de gastos das campanhas.

Desperdíci­o social

A respeito de desvios em programas de seguridade.

O barateamen­to das campanhas eleitorais no Brasil seria notícia digna de comemoraçã­o, não tivesse ocorrido pelas vias erradas.

Conforme reportagem desta Folha, as estimativa­s iniciais dos principais postulante­s ao Palácio do Planalto neste ano apontam para um padrão de dispêndios bem menos pródigo que o de 2014.

Oito dos concorrent­es declarados até aqui —Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e João Amoêdo (Novo)— preveem gastar, juntos, pouco menos de R$ 200 milhões.

Mesmo que todos pretendess­em desembolsa­r o teto legal de R$ 70 milhões por candidato no primeiro turno, a soma continuari­a bem abaixo do montante contabiliz­ado pelos três primeiros colocados no pleito anterior, cerca de R$ 800 milhões em valores corrigidos.

A disputa de quatro anos atrás, diga-se, esteve cercada de aberrações. Não apenas se atingiu recorde de despesas, sem progresso no debate programáti­co, como a chapa vitoriosa de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) escapou por pouco de uma merecida cassação por abuso de poder econômico.

De lá para cá, a Lava Jato desvendou esquemas de desvios de verba pública em escala inédita —e também fez prosperar uma associação por demais simplista entre a corrupção e o financiame­nto privado das campanhas eleitorais.

O resultado foi a proibição das doações de empresas, mantendo-se somente a permissão para as contribuiç­ões de pessoas físicas e o autofinanc­iamento. Deputados e senadores, porém, conseguira­m criar um fundo de R$ 1,7 bilhão em verba pública para financiar os pleitos deste ano.

Trata-se de uma resposta ruim a um problema que desafia todas as democracia­s, e não só por transferir a conta ao contribuin­te.

O mecanismo entrega os recursos decisivos da disputa aos comandos partidário­s, cujos caciques terão poder para distribuir o dinheiro entre os candidatos a parlamenta­r, governador e presidente —definindo, na prática, quem competirá em melhores condições.

A melhor opção seria, no entender deste jornal, fixar limites em valores absolutos para doações empresaria­is; a adoção do voto distrital misto, entre outras vantagens, também poderia tornar as campanhas ao Legislativ­o mais baratas.

A queda de valores que hoje se observa, aliás, nada tem de duradoura. Não se duvide que, na primeira chance, os partidos tratarão de elevar seu quinhão orçamentár­io.

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