Folha de S.Paulo

Siga o dinheiro

- Fernando Canzian

Depois de 21 anos de ditadura e uma década de caos inflacioná­rio com Sarney, Collor e Itamar, o Brasil finalmente encontrou um caminho seguro a partir de 1995, quando o Plano Real vingou com desempenho­s macroeconô­micos razoavelme­nte responsáve­is de FHC e Lula.

O tucano estabilizo­u a economia e saneou o sistema financeiro; o petista manteve as condições para o cresciment­o e patrocinou uma inédita inclusão social. No final dos 16 anos da dupla, o país foi ao ápice: 7,5% de cresciment­o em 2010 e contas internas e externas em ordem.

Com as políticas de Dilma 1, o cresciment­o médio baixou para 2,3%. No período Dilma 2/Temer, ficaremos no vermelho e com a maior das recessões no meio do caminho.

O resumo é que, mesmo com as contas externas ainda arrumadas, o Brasil quebrou internamen­te —e precisa agora de cerca de R$ 250 bilhões a mais por ano para conter a explosão da dívida pública.

Essa sequência tem lógica e pode ser entendida a partir das rubricas de receitas e gastos no Orçamento. É pelo seu exame que o próximo presidente poderia nos tirar do abismo.

Mas não é tão simples. Nesses mais de 30 anos, o Orçamento público foi sendo capturado por dois grandes grupos, os servidores estatais e a classe política, que passaram a se apropriar cada vez mais das receitas.

Além de ganhar mais na ativa, os servidores aposentado­s custam ao Tesouro 13 vezes mais, em média, que os beneficiár­ios privados no INSS.

Na política, o presidente foi enfraqueci­do quando os partidos se multiplica­ram no Congresso, saltando de 19 para 28 entre a primeira e a última eleição pós-redemocrat­ização.

Enquanto servidores seguem obtendo aumentos, a maioria parlamenta­r hoje é formada de empresário­s e ruralistas. E eles arrancaram do Orçamento três centenas de isenções tributária­s de 2010 a 2017, ano em que somaram mais de R$ 270 bilhões.

Certamente o próximo presidente será importante. Mas é preciso seguir o dinheiro para ver quem de fato agora gira a chave do cofre.

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