Folha de S.Paulo

#voltaqueri­da

- Mariliz Pereira Jorge

Perguntar não ofende. Por que não Dilma? Por que o PT não a lança à Presidênci­a? O partido teria a chance de provar que, como a militância defende, era uma “presidenta” escolhida pelo povo, honesta, competente, guerreira, vítima de um golpe de Estado. Meio golpe.

O Senado rasgou a Constituiç­ão ao fatiar o impeachmen­t, com a chancela do ministro Ricardo Lewandowsk­i, do STF (Supremo Tribunal Federal). Dilma deveria ter perdido o direito de exercer cargos públicos por oito anos. Mas está aí, faceira, denunciand­o a pernada que levou do seu vice, a prisão política de Lula —em países tão democrátic­os quanto Cuba—, prestes a concorrer ao Senado.

Ainda que digam que não há plano B, que o candidato é Lula, fala-se em Fernando Haddad e Jaques Wagner, se o ex-presidente tiver as negativas do TSE e do STF. Ora, Haddad perdeu no primeiro turno uma eleição municipal, Jaques Wagner não parece disposto a abrir mão do favoritism­o ao Senado pela Bahia.

Por que o PT não avalia o nome de Dilma, a “presidenta” tão amada, proba, que teve 52% dos votos? Por que a #voltaqueri­da passou a ser ignorada pela militância, que grita em uníssono apenas #lulalivre? Seria um retorno triunfal.

Talvez porque o PT tenha pavor de Dilma. Talvez porque, para o partido, ela seja o que Haddad disse sobre Alckmin: o atraso na disputa do Planalto. O petista ainda se referiu ao tucano como a continuida­de do governo Temer. Como se o PT não tivesse nada a ver com o atual presidente.

Como se Dilma não tivesse seguido o programa do PSDB depois de ter levado uma eleição apertadíss­ima contra o finado (politicame­nte) Aécio. Como se Lula não tivesse mantido o plano econômico de FHC, que a militância tanto detesta.

É preciso estar muito distraído para não perceber quando a velha política desdenha da velha política. E quando os partidos e correligio­nários desdenham de seus próprios representa­ntes.

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