Folha de S.Paulo

Alckmin terá de construir frente sem hegemonia do PSDB e saber dividir poder

Presidente da Câmara nega que centrão tenha discutido distribuiç­ão de cargos em um eventual governo do tucano

- Marina Dias

brasília Na véspera do centrão oficializa­r apoio à candidatur­a de Geraldo Alckmin (PSDB) ao Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), afirma que o PSDB não será hegemônico e que os tucanos terão de ceder mais espaço na aliança.

“Não é uma eleição do Geraldo, do PSDB. É uma eleição do Geraldo em cima de um programa claro”, afirmou à Folha. “O PSDB vai precisar entender que outras forças hoje têm poder maior do que tinham quando o PSDB foi governo e oposição”, completa.

Maia nega que o bloco tenha discutido distribuiç­ão de cargos em um eventual governo do PSDB, mas avisa que o tucano precisará “saber dividir os espaços de poder”.

O centrão ficou dividido entre Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). O que desequilib­rou o jogo em favor

do tucano? Foi ficando claro que uma agenda convergent­e entre Ciro e o campo mais à direita era difícil e com pouca capacidade de compreensã­o por parte da nossa base. Com Geraldo, as questões ideológica­s convergiam sem necessidad­e de explicação, somado ao fato de que Ciro poderia dividir o grupo.

O sr. defendia apoiar Ciro, mas precisou aceitar o acordo com Alckmin. Sente-se derrotado? Não, ao contrário. Sempre disse que, para mim, o natural era apoiar Geraldo, mas, na conversa com Ciro, me coloquei como ator desse novo processo político, do diálogo, da capacidade de construir uma agenda de conciliaçã­o em campos opostos. O que prevaleceu é que a aliança com Geraldo geraria mais conforto aos partidos. Foi a decisão correta. Não sou daqueles que considera que as construçõe­s políticas gerem vitoriosos ou derrotados.

O sr. fala de nova política, mas o centrão tem dirigentes investigad­os, é base de Michel Temer, foi da órbita do PT, e se uniu ao PSDB, que governa São Paulo há mais de 20 anos.

Não é contraditó­rio? Acho que Geraldo, mesmo sendo da velha geração, já compreende­u que vai ter que incorporar um novo momento. Ele precisa construir uma frente muito maior que qualquer um dos partidos que estão na coligação, uma frente na qual o PSDB não seja hegemônico, na qual saiba dividir os espaços de poder nas eleições estaduais. O primeiro grande desafio de Alckmin é liderar um processo no qual o PSDB vai precisar entender que outras forças hoje têm poder maior do que tinham quando o PSDB foi governo [1995 a 2002] e oposição [2003 a 2016].

Quais cargos na campanha e num eventual governo o centrão negociou para fechar

com A lckmin? As demandas foram focadas no processo eleitoral, em nenhum momento tratamos de governo. Mas tem que entender que participar do governo não é problema, o problema são as escolhas. Tem que construir, claro, uma nova relação dos partidos com o governo. A disputa política na eleição é disputa de poder. Tem muito mito em relação aos partidos do centrão, mas a verdade é que as únicas negociaçõe­s foram essas.

Não negociaram nem cargo de coordenaçã­o na campanha? Qual o problema de querer participar? Colocamos que achamos que podemos ajudar na campanha.

DEM, PP, PRB e Solidaried­ade não conseguiam chegar a um consenso e o bloco quase rachou. Qual o papel de Valdemar Costa Neto, do PR, para

unificá-los? Valdemar tinha posição pró-Bolsonaro (PSL) e, depois que veio para o bloco, disse que a tendência do PR era preferir Geraldo. Como havia uma divisão, quase ao meio, entre Ciro e Alckmin, a aposta dele ajudou a consolidar o apoio ao PSDB.

O PR foi o último partido a aderir ao bloco e indicou Josué Alencar (PR-MG) como vice. Por que teve prioridade? Não teve prioridade. O Josué é o nome que traz consenso a todos os partidos.

Josué sinalizou que pode não aceitar o posto. Quem será o vice de Alckmin neste caso? Estou confiante e esperarei até o último minuto, que é 5 de agosto [data limite para o registro das chapas]. Acredito que Josué ajuda muito a chapa por ser mineiro e representa­r uma aliança importante com segmentos do setor produtivo. Se não for ele, Alckmin tem que sentar com os partidos e escolher um nome do PP, PR, Solidaried­ade ou PRB.

Por que o sr. não inclui o seu

partido, o DEM? Porque o DEM hoje tem a presidênci­a da Câmara. Para manter a gente unido, todos têm que ter a oportunida­de de participar da chapa majoritári­a.

O DEM não indicará o vice se não for Josué? O DEM não está pleiteando a vice. O sr. negociou para ter apoio do PSDB e do bloco numa possível reeleição à presidênci­a

da Câmara? A disputa para a presidênci­a da Câmara só é revelada depois da eleição presidenci­al e da composição de forças no Parlamento. É óbvio que, se esse campo sair vitorioso —e eu for eleito deputado— meu nome será lembrado e é forte.

Se Alckmin perder a eleição, o sr. conseguirá se reeleger ao comando da Casa mesmo na

oposição? Fui eleito presidente na primeira vez [em 2016] numa circunstân­cia em que poucos acreditava­m. Eu não era o candidato do governo. Na segunda vez, o governo tinha dois candidatos, um era eu. Tive apoio de partidos da base e da oposição. O que vai se construir no futuro passa pela eleição. Por isso é importante que se crie uma frente que deixe claro que não é uma eleição do Geraldo, do PSDB, é uma eleição do Geraldo em cima de um programa claro.

O sr. não desistiu oficialmen­te da pré-candidatur­a ao Planalto. Quer fazer isso agora? Não. Vou escrever uma carta [Maia está em Miami enquanto Temer estiver fora do país], para ser lida nesta quinta (26) pelo presidente do DEM, ACM Neto, agradecend­o e colocando minha posição.

“O primeiro grande desafio de Alckmin é liderar um processo no qual o PSDB vai precisar entender que outras forças hoje têm poder maior do que tinham quando o PSDB foi governo e oposição

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Pedro Ladeira - 7.mar.18/Folhapress

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