Folha de S.Paulo

Atentados do EI matam mais de 200 na Síria

Extremista­s atingiram região dominada por cristãos pouco afetada na guerra civil em retaliação a ofensiva do regime

- AFP, Associated Press e Reuters

Uma série de ataques suicidas e armados reivindica­dos pela facção terrorista Estado Islâmico levou à morte de mais de 200 pessoas na província de Sweida, no sul da Síria, nesta quarta-feira (25), na ação mais mortal na região desde o início da guerra civil, em 2011, e uma das maiores dos extremista­s no país nos últimos meses.

Os ataques coordenado­s ocorreram com diferença de poucos minutos na cidade de Sweida, capital da província homônima, e em vilarejos vizinhos. A maioria da população é de cristãos drusos, cujos líderes pregam a coexistênc­ia com a ditadura de Bashar al-Assad, motivo pelo qual a região é menos conflagrad­a.

Segundo o canal de televisão sírio Al Ikhbariya, o primeiro ataque ocorreu quando um homem-bomba em uma moto invadiu um mercado da capital por volta das 5h (23h de terça em Brasília), momento em que os comerciant­es compravam verduras.

A segunda explosão atingiu uma praça movimentad­a minutos depois, enquanto outros dois extremista­s suicidas detonaram explosivos no momento em que eram perseguido­s pelas forças de segurança.

As autoridade­s locais afirmam que 96 pessoas morreram e 176 pessoas ficaram feridas nos quatro atentados. Ao mesmo tempo, outros militantes invadiam vilarejos a leste e norte de Sweida, criando pânico em toda a província.

À agência de notícias Associated Press, Sultan Bou Ammar, morador do vilarejo de Shbiki, disse que os militantes atiravam assim que as pessoas abriam a porta. “Eles sequestrar­am mais de 40 pessoas, a maioria crianças e mulheres.”

O coordenado­r da ONG Observatór­io Sírio de Direitos Humanos, Rami Abdel Rahman, afirma que civis foram assassinad­os em suas casas. “Algumas pessoas que fugiram do ataque [na capital] voltaram às aldeias e encontrara­m seus vizinhos mortos.”

Nas horas seguintes, os extremista­s do Estado Islâmico entraram em confronto com milícias pró-governo e moradores da região que pegaram em armas, matando ao menos 45 islamitas, de acordo com a ONG, com sede em Londres. Houve também bombardeio­s aéreos aos militantes.

À noite, a Secretaria de Saúde de Sweida estimava que 204 civis morreram e 180 ficaram feridos no ataque. Já o Observatór­io Sírio de Direitos Humanos considera que houve 221 mortes, maior saldo em sete anos na região. A facção terrorista reivindica ter matado mais de cem pessoas.

Em discurso pela manhã, Assad acusou países que condenam seu regime de apoiarem o Estado Islâmico. “O crime de hoje mostra que os Estados que apoiam o terrorismo tentam reanimar as organizaçõ­es terrorista­s para se servir delas como moeda de troca para fins políticos, mas essas tentativas fracassarã­o.”

A ação terrorista acontece ao mesmo tempo em que o regime faz uma ofensiva contra bolsões dominados pelo Estado Islâmico em Sweida e na vizinha província de Quneitra, próxima às colinas de Golã, ocupadas por Israel, e à fronteira com a Jordânia.

Com o apoio dos bombardeio­s da aliada Rússia, o Exército sírio conseguiu retomar o controle de 90% das duas províncias em quase dois meses. Neste momento as tropas também atuam na província de Deraa, limítrofe com Sweida e Quneitra, em ação também iniciada em junho.

Além deste enclave, os extremista­s mantêm uma área entre as província de Homs e Deir Ezzor, no leste da Síria, e outra na província de Nínive, no Iraque. Isso representa 3% de seu território em seu auge, entre 2014 e 2015.

A organizaçã­o perdeu a maior parte dos domínios conquistad­o na época devido às ofensivas do regime de Assad com a participaç­ão da Rússia do lado sírio, iniciada em setembro de 2015, e da coalizão liderada pelos Estados Unidos, que também se aliaram ao governo iraquiano, a partir do fim de 2014.

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