Folha de S.Paulo

‘A única saída era o mar’, diz grego que viu fogo matar 26

Cegado pela fumaça, grupo estava a passos de escada para a praia quando foi pego pelas chamas em Mati

- Jason Horowitz The New York Times, tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Eles quase alcançaram o mar. Enquanto o vento atiçava as chamas que mataram ao menos 80 pessoas em balneários perto de Atenas, 26 homens, mulheres e crianças se juntaram para achara escada quele vavaà praia. O portão estava a dez passos, mas, coma fumaça bloqueando a visão e enchendo seus pulmões, eles parecem ter perdido o rumo.

As autoridade­s encontrara­m os corpos no dia seguinte, terça, vários deles abraçados.

Ao pôr do sol, jaziam no campo fumegante uma caixa de óculos, afivela de um cinto, carcaças de cachorros e restos de celulares. Ao redor, luvas de borracha dos socorrista­s que levaram os cadáveres.

Em meio às ondas de calor extremo na Europa, que neste ano alimenta incêndios na Escandináv­ia, a Grécia, com ventos de 100 km/h, clima seco e temperatur­a próxima a 40°C, reúne condições mortíferas.

O país conta desde segunda (23), além dos mortos pela fumaça ou pelo fogo —e aqueles se afogaram tentando fugir—, 187 pessoas hospitaliz­adas, mais de 20 crianças.

Os incêndios obrigaram milhares de turistas e moradores a fugir de Mati, área de veraneio a 30 km de Atenas. Na terça, as chamas ainda engoliam campos 50 km a oeste.

O governo declarou emergência, pediu ajudaà UE enviou Exército e Guarda Costeira para combater os focos de fogo.

O cheiro acre, lufadas de vento e fumaça, montes de lixo incinerado e as ruas tingidas de preto davam à comunidade um ar apocalípti­co.

Elena Apostolov, dona de um pet shop, andava com uma gaiola vazia. “Não achamos nada”, disse. Danae Koliou, 23, desviou dos cadáveres e apanhou um celular abandonado com 48 ligações perdidas.

O vento errático deixou casas intactas, enquanto de outras só restaram cinzas. Os moradores disseram que as chamas chegaram depressa.

“Houve um cheiro de fumaça”, disse Antonis Tsiongios, 60, um encanador que tinha uma casa de veraneio. “Duas horas depois, veio o fogo.”

Então, disse ele, era tarde demais para escapar. A saída da cidade estava lotada de carros e envolta em chamas. “A única saída era o mar.” Tsiongios apontou uma passagem estreita atrás de um cacto, onde disse que mais de cem pessoas tentaram alcançar à praia rochosa embaixo. Ele conseguiu e esperou na água até o incêndio acabar.

Doze embarcaçõe­s da Guarda Costeira, com ajuda de particular­es, retiraram dezenas de pessoas domar e cer cade 800 acuadas nas praias locais.

Moradores que nadaram até locais seguros viram vizinhos se afogarem. Outros ficaram na água por horas, os olhos queimando pela fumaça, até pescadores chegarem.

O número de morto sé o maior na Grécia desde 2007, quando incêndios mataram mais de 70 pessoas no Peloponeso, e deve subir quando forem revistados os carros e casas onde alguns buscaram abrigoe acabaram calcinados.

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Savvas Karmaniola­s/AFP Vista aérea mostra a cidade de Mati, a 30 km de Atenas, devastada pelo fogo

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