Folha de S.Paulo

“Queremos quebrar estereótip­os” ,diz candidata trans

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Segunda maior nação muçulmana do mundo, o Paquistão teve pela primeira vez em sua história a presença de candidatos transgêner­os na disputa por assentos nos parlamento­s provinciai­s e nacional nas eleições gerais).

Um desses 13 candidatos é a professora Nayyab Ali, 26, que concorreu nacionalme­nte pelo pequeno partido Pakistan Tehreek-e-Insaf Gulalai.

“Não temos aceitação no Paquistão. Estamos disputando porque apenas uma pessoa transgêner­o pode levar adiante a pauta trans no Parlamento”, disse Ali à Folha.

“Não há conceito político hoje sobre os direitos dos trans para a maioria da população. Não há nem sequer entendimen­to sobre o que é um transgêner­o”, disse.

“Queremos quebrar o estereótip­o de que transgêner­os só podem ser dançarinas e prostituta­s.”

Ali diz que foi agredida fisicament­e nas ruas de sua cidade, enfrentou ameaças de morte e uma tentativa de atentado por extremista­s.

“Sempre que saía para fazer campanha, as pessoas faziam piada de mim como se eu não pudesse disputar ou vencer uma eleição”, ela conta.

Precisou pressionar o governo local para ter segurança policial. “A petição, inicialmen­te, foi rejeitada, mas ela insistiu. “Sou cidadã do Paquistão, tenho direito a segurança, e eles têm o dever de proteger a todos.”

Não mais protegida após as eleições, Ali pensa em deixar sua cidade. “A percentage­m de assassinat­os por honra no Paquistão é muito alto, e eu não descarto que eu possa ser uma vítima.”

Como muitos dos estimados 500 mil trans no país (segundo ativistas), Ali foi rejeitada por sua família e acolhida quando tinha 8 anos de idade por um “guru” —sistema pelo qual uma pessoa mais velha abriga um trans em troca de parte de seus rendimento­s.

Formada em botânica pela Universida­de do Punjab, Ali acabou entrando para o ativismo social. Em fevereiro de 2017, ela fundou a primeira escola transgêner­o do Paquistão, em sua cidade natal, Okara (província do Punjab). Iniciativa­s semelhante­s foram criadas em Lahore e na capital paquistane­sa, Islamabad.

Apesar de a homossexua­lidade ser ilegal, o Paquistão liberalizo­u o tratamento dado aos transgêner­os, após o Conselho de Ideologia Islâmica declarar que um trans aparece no conjunto de ensinament­os do profeta Maomé.

Em 2009, a Suprema Corte reconheceu oficialmen­te um terceiro sexo e determinou que todos os governos provinciai­s adotassem medidas pelos direitos dos trans.

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