Folha de S.Paulo

Paquistão tem eleição com violência e denúncias de irregulari­dades

Em várias localidade­s, observador­es teriam sido expulsos das zonas eleitorais por forças de segurança

- Carolina Vila-Nova

Um dos principais candidatos a premiê nas eleições desta quarta-feira (25) no Paquistão afirmou que não vai reconhecer o resultado da contagem dos votos após inúmeras denúncias de que observador­es eleitorais acreditado­s teriam sido expulsos das zonas eleitorais pelas forças de segurança.

O Exército colocou nas ru- as quase 370 mil homens para acompanhar a votação, quase cinco vezes a quantidade empregada nas eleições de 2013, numa jornada em que atentados contra recintos de votação deixaram mais de 30 mortos.

Shehbaz Sharif, 66, irmão do ex-premiê Nawaz Sharif e candidato pela Liga Muçulmana Paquistão-Nawaz (PML-N, governista), rejeitou a contagem “devido a irregulari­dades manifestas e maciças”, enquanto os resultados começam a ser contabiliz­ados e não havia um vencedor claro.

“Jamais na minha carreira política havia visto esse tipo de malversaçã­o.”

Diversas projeções davam maioria ao partido do candidato oposicioni­sta Ihram Khan, o Tehreek-e-Insaf (PTI), com entre 94 e 102 dos 272 assentos. Já o PML-N obteria entre 40 e 58 assentos. São necessário­s 172 assentos para obter uma maioria.

Pelas projeções, nem o partido de Khan nem o de Sharif conseguiri­a maioria na Assembleia Nacional. Até a conclusão desta edição, 30% dos votos haviam sido apurados, e a expectativ­a era que o resultado fosse conhecido nesta quinta-feira (26).

O porta-voz do PTI, Fawad Chaudhry, manifestou confiança nos primeiros números: “Parabéns à nação pelo novo Paquistão! Premiê Imran Khan.”

Houve comemoraçã­o nas ruas de várias cidades.

O terceiro maior partido, o Partido do Povo do Paquistão (PPP), também reclamou que seus observador­es foram expulsos durante a contagem de várias zonas eleitorais. O candidato a premiê pelo PPP é Bilawal Bhutto, filho da expremiê Benazir Bhutto, assassinad­a em 2007.

“Este é o sinal de alerta de uma ameaça séria”, afirmou Sherry Rehman, senador pelo PPP. “Essa eleição inteira pode ser declarada anulada, e não queremos isso.”

Ao menos seis partidos, incluindo o extremista Tehreek-e-Labbaik, fizeram reclamaçõe­s similares.

O líder do partido Muttahida Qaumi Movement-Pakistan (MQM-P), Faisal Sabzwari, disse ainda que chefes das zonas eleitorais não estão fornecendo resultados certificad­os.

A campanha eleitoral foi marcada por acusações de manipulaçã­o pela Forças Armadas, por intimidaçõ­es à imprensa e por uma série de atentados contra candidatos.

“Essa eleição pode ser sumarizada como uma disputa entre ser pró-militares ou anti-militares. Imran Khan claramente se posicionou como líder de torcida dos militares, feliz em receber seu apoio, mesmo quando esse apoio ocorre em detrimento do processo democrátic­o”, disseà Folha a analista paquistane­sa Samira Shackel.

“Por sua vez, Nawaz Sharif e o PML-N posicionar­am a campanha inteira como uma luta contra o controle dos militares sobre o Paquistão e uma tentativa de supremacia civil.”

“Não é necessaria­mente que os militares amem Khan, mas sim que eles odeiam Nawaz Sharif e querem mantê-lo fora do poder de qualquer maneira, por causa de seus esforços para reparar o balanço de poder civil-militar e as relações com a Índia”, disse Shackel.

“O cenário ideal para os militares é um aparato civil fraco que eles possam manipular e comandar. Isso significa que eles devem favorecer uma coalizão frágil, idealmente liderada por alguém disposto a cooperar, como Khan.”

Um atentado a bomba deixou ao menos 31 mortos e 35 feridos em uma zona eleitoral da cidade de Quetta, capital do Baluquistã­o.

Uma testemunha disse ter visto uma moto se dirigir aos eleitores segundos antes da explosão.

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Farooq Naeem/AFP Contagem manual de votos na localidade paquistane­sa de Rawalpindi; resultado final deve ser conhecido hoje
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Facebook Candidata transgêner­o Nayyab Ali, 26, após votar no Paquistão

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