Folha de S.Paulo

Presença de executivo em fábricas do Brasil provocava pânico

- Eduardo Sodré

Em seus 14 anos à frente da Fiat, Marchionne esteve ao menos 20 vezes no Brasil. Eram compromiss­os no chão da fábrica, uma forma de ver de perto o único mercado em que a montadora se destacava no mundo.

Em 2004, a Fiat acumulava anos de perdas bilionária­s, mas detinha 23,6% do mercado nacional, atrás apenas da Chevrolet. Isso já explica a importânci­a do país para a montadora.

No ano seguinte, a fabricante italiana chegou a 23,8% de participaç­ão e se tornou a maior do Brasil, posição que manteve por alguns anos.

A presença dele em Betim (MG) ou Goiana (PE) deixava a todos em pânico, de executivos a operários.

Talvez fosse o mais exigente e ríspido dos grandes nomes do setor automotivo, embora também soubesse rir e ser cordial quando as coisas iam bem.

Fred Carvalho, diretor de comunicaçã­o da Anfavea (associação nacional das montadoras), relembra o episódio em que Marchionne, durante visita à fábrica mineira, foi convidado a ir até o setor de design.

O executivo seguiu desconfiad­o e lá encontrou um carro coberto por panos. Era a picape Fiat Toro, projetada sem seu conhecimen­to.

Segundo Fred, Marchionne gostou do que viu e aprovou o projeto, mas não sem passar um pito na equipe brasileira.

Ele teria dito que um presidente-executivo como ele deveria conhecer o projeto ainda no papel, sem surpresas, e que aquilo nunca mais poderia acontecer.

O surgimento do grupo FCA, após a incorporaç­ão da Chrysler, resultou em grandes mudanças na filial brasileira.

Após uma década de cresciment­o expressivo, a marca italiana começou a perder força, mas havia uma compensaçã­o: a Jeep crescia.

Marchionne aprovou o investimen­to de R$ 12 bilhões na construção da fábrica pernambuca­na e viveu para ver o modelo Compass assumir a liderança do mercado de utilitário­s esportivos no Brasil.

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