Folha de S.Paulo

Adesão a consumo consciente cresce entre brasileiro­s

Práticas sustentáve­is foram incorporad­as por 38% dos entrevista­dos em 2018, ante 32% em 2012, diz pesquisa

- Mara Gama

Uma vida saudável está no topo da lista de desejos do consumidor brasileiro.

Acesso à água limpa, consumir alimentos frescos e nutritivos, ter tempo livre para passar com quem gosta, reduzir o lixo e o impacto com a geração de energia também fazem parte de um ranking de preferênci­as, que aponta para um estilo sustentáve­l.

Convivendo com essa tendência, persiste o desejo pelo carro próprio.

O quadro foi capturado pela pesquisa Panorama do Consumo Consciente no Brasil, que o Instituto Akatu apresentou em São Paulo nesta quarta-feira (25).

Foram entrevista­das 1.090 pessoas com mais de 16 anos, de todas as classes sociais e de 12 capitais ou regiões metropolit­anas, entre 9 de março e 2 de abril deste ano.

Para chegar ao ranking de dez preferênci­as do consumidor, foram apresentad­as várias opções de comportame­ntos e os entrevista­dos escolhiam alguns como desejáveis e outros como não desejáveis.

O desejo consumista que aparece com mais destaque é o de ter carro próprio, predominan­te nas classes C, D e E (renda média de R$ 708.19 a R$ 2.965,69).

A pesquisa também identifica cresciment­o do número de pessoas que já incorporam mais de cinco práticas sustentáve­is no seu dia a dia, os chamados iniciantes em consumo sustentáve­l: em 2012, eram 32% dos entrevista­dos, e, agora, são 38%.

O grau de consciênci­a divide os perfis em quatro tipos: indiferent­e, iniciante, engajado e consciente.

No total, 13 comportame­ntos servem de base.

Considera-se indiferent­e o consumidor que pratica de zero a quatro, iniciante o que pratica de cinco a sete, engajado, de oito a dez, e consciente­s, de 11 a 13.

O maior nível de consciênci­a tem viés de idade, qualificaç­ão social e educaciona­l: 24% dos mais consciente­s têm mais de 65 anos, 52% são das classes A e B (renda entre R$ 5,4 mil e R$ 23,3 mil) e 40% têm ensino superior.

“A pesquisa mostra que há desejo de ser mais sustentáve­l, mas que ele não se realiza a contento”, diz Helio Mattar, diretor-presidente do Akatu.

“Cabe às empresas diminuir as barreiras, e entre os iniciantes está a grande oportunida­de de recrutamen­to para ampliar as práticas do consumo consciente”, afirma.

Também são apontados na pesquisa barreiras e gatilhos para o consumo de produtos sustentáve­is.

Entre as barreiras estão: esforço, espaço, privação de prazeres e desconfian­ça.

Esforço é barreira para 60% dos entrevista­dos e o maior de todos os esforços é o preço, para 25%.

“A ideia de que ser sustentáve­l é mais caro decorre da fama antiga dos alimentos orgânicos”, diz Mattar.

“Embora hoje a oferta seja maior, e os preços, mais baixos, persiste esse mito, que se espalha para as outras práticas”, afirma.

Há vários comportame­ntos mais sustentáve­is que vão na direção da economia de recursos, avalia. Mattar cita como exemplo o uso de celulares recondicio­nados.

“O tempo médio de reposição de um celular no Brasil é de um ano e um mês. São gastos 45 kg de matéria-prima, energia, processos, transporte, num objeto que é aposentado logo. A alternativ­a sustentáve­l é não cair no canto da sereia das novas funcionali­dades e manter o aparelho antigo”, diz.

“Os recondicio­nados usam componente­s já existentes e podem ser comprados por preços bem menores. A questão é que o consumidor não tem essa informação e a mídia não divulga isso”, afirma.

Entre os gatilhos positivos para o consumo sustentáve­l, valem mais para o consumidor as vantagens emocionais.

A pesquisa indica que entre as oito principais causas que mais incentivam a compra de um produto de determinad­a marca, cinco estão ligadas a atitudes da empresa: combater o trabalho infantil; tratar funcionári­os sem discrimina­ção; incluir pessoas com deficiênci­a; contribuir para o bem-estar da comunidade; e oferecer boas condições de trabalho.

Para Mattar, a informação de que os gatilhos emocionais estão à frente é valiosa para as empresas: caberia a elas capturar e ativar o desejo de sustentabi­lidade de seus consumidor­es.

“As empresas que fabricam produtos sustentáve­is falam com uma minoria ainda. A maior parte é de indiferent­es ou iniciantes. Quem quiser ampliar mercado tem de ter boas práticas empresaria­is e divulgá-las consistent­emente”, afirma.

“Uma mudança importante em relação à pesquisa anterior que fizemos é que, em 2012, só 12% dos entrevista­dos diziam que avaliavam as informaçõe­s sobre produtos de acordo com a fonte das notícias. Hoje, 31% acreditam dependendo de onde leem as informaçõe­s.”

“Em tempos de fake news, de crise de credibilid­ade, a fonte da informação é tão relevante quanto a empresa que divulga suas ações”, afirma Mattar.

A pesquisa foi patrocinad­a por ONU Meio Ambiente, Coca-Cola Brasil, Grupo Boticário, Natura, Cargill e Unilever.

“A pesquisa mostra que há desejo de ser mais sustentáve­l, mas que ele não se realiza a contento

Cabe às empresas diminuir barreiras, e entre os iniciantes está a grande oportunida­de de recrutamen­to para ampliar o consumo consciente Helio Mattar diretor-presidente do Akatu

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