Folha de S.Paulo

Com vereadores candidatos, Câmara de São Paulo sobe gastos com correio

Alguns ampliaram esse tipo de despesa parlamenta­r em mais de 900% neste ano ano eleitoral

- Guilherme Seto

Os vereadores da Câmara Municipal de São Paulo turbinaram seus gastos com correio em 2018, sendo que alguns deles aumentaram em mais de 900% esse tipo de custo em relação ao ano passado.

Alguns vereadores são précandida­tos a cargos fora do município que serão disputados nas eleições de outubro.

De janeiro a maio deste ano, período em relação ao qual o Legislativ­o já divulgou os seus relatórios de despesas, os 55 vereadores de SP gastaram aproximada­mente R$ 471 mil no envio de correspond­ências, material de divulgação e cartões comemorati­vos.

No mesmo período do ano passado, os gastos com correio ficaram em R$ 365 mil, em valores corrigidos pela inflação. A diferença, portanto, foi de 29% entre os anos.

Entre os vereadores que já anunciaram pretensões eleitorais destacam-se os casos de Aurélio Nomura (PSDB) e Sâmia Bomfim (PSOL).

Pré-candidatos a deputado estadual e deputada federal, respectiva­mente, eles investiram muito mais em correspond­ências em 2018 do que no ano anterior.

Nomura, que foi líder do PSDB na Câmara em 2017, gastou pouco mais de R$ 11 mil em correio de janeiro a maio deste ano, uma média de R$ 2.000 mensais. No mesmo período do ano passado ele gastou pouco mais de R$ 1.000 —valor significat­ivamente pequeno em comparação com os demais membros do Legislativ­o. De um ano para o outro, a diferença ficou em 914%.

Sâmia, mais jovem vereadora

eleita na cidade (atualmente ela tem 28 anos), investiu valor superior a R$ 22.900 em envio de cartas nos primeiros cinco meses de 2018. Trata-se de um aumento de 1.723% em relação ao início de 2017, quando investiu somente R$ 1.257 em correspond­ências.

A variação nos investimen­tos de Sâmia e Nomura está relacionad­a ao fato de que eles estão entre os vereadores que pouco gastaram com correios no Legislativ­o em 2017.

Ao decidirem apostar mais nesse recurso em 2018, geraram desproporc­ionalidade.

Entre os que mais gastam com o material destaca-se o caso de Milton Ferreira (Podemos), que pode lançar candidatur­a para o cargo de deputado estadual —ele nega. No ano passado, ele gastou mais de R$ 12 mil em correios de janeiro a maio, classifica­ndo-se entre os que mais apostaram nesse modo de divulgação.

Neste ano, Ferreira quase

triplicou os gastos, chegando aos R$ 36 mil em cinco meses.

Cada vereador dispõe de verba anual de R$ 289.125 (média mensal de R$ 24 mil por vereador) destinada ao custeio de serviços gráficos, correios, jornais, deslocamen­tos, materiais de escritório, entre outros. Trata-se de auxílio previsto em lei e chamado “encargos gerais de gabinete”. Além disso, também possuem verba mensal de R$ 164 mil para gastar com até 18 funcionári­os.

Em maio, os vereadores aprovaram a criação de auxílio-saúde para eles mesmos e os funcionári­os, além de auxílio-alimentaçã­o para os últimos —o que deve gerar gasto anual extra de R$ 38 milhões.

O gasto com correios é previsto em lei, mas precisa seguir algumas diretrizes. O artigo 37 da Constituiç­ão diz que “a publicidad­e deve ter caráter educaciona­l, informativ­o ou de orientação social. Assim sendo, de fato, não pode ser empregado dinheiro público para promoção pessoal.”

Os panfletos de vereadores costumam incluir textos de prestação de contas de mandato, projetos de lei, e, em alguns casos, mensagens referentes a datas comemorati­vas, como feriados e aniversári­os.

Os preços são os mesmos pagos por qualquer cidadão aos correios, e variam da mala direta (a partir de R$ 0,72) até o Sedex (R$ 35,10). No caso de Adilson Amadeu (PTB), o que mais gastou em 2018 em correios (R$ 75 mil), ele conseguiri­a mais de 100 mil envios por mala direta, por exemplo.

Para Sandro Cabral, professor de estratégia no Insper, os altos gastos com correios são um sintoma da “política de va- rejo” praticada no país. “É uma maneira de o vereador se perpetuar no cargo, uma estratégia típica da política tradiciona­l. São gastos exorbitant­es e que ajudam na manutenção da estrutura como ela existe hoje, sem renovação.”

Entre os vereadores da nova geração, como Caio Miranda (PSB), Fernando Holiday (DEM) e Janaina Lima (Novo), os gastos com correios são irrisórios ou inexistem.

Trata-se de um núcleo de políticos que aposta nas redes sociais como forma de interagir com seu eleitorado.

Para Cabral, os comportame­ntos distintos expressam uma quebra geracional.

Em nota de sua assessoria, o vereador Nomura afirma que “o serviço é utilizado para enviar material de prestação de contas do mandato, garantindo a transparên­cia com a população. Vale ressaltar que a utilização da verba está dentro da legalidade.”

A vereadora Sâmia Bomfim ressalta que fez pouco uso dos correios em 2017 pois era o início do mandato.

No começo de 2018 “foi produzido material de balanço do primeiro ano de trabalho. Além da distribuiç­ão na prestação de contas semanal do mandato nas ruas também foi feito envio por correios. O conteúdo dos materiais é de conhecimen­to público e voltado à prestação de contas.”

Milton Ferreira afirma que no “início do mandato não temos muitas obras”, “porém com o passar do tempo os projetos são concretiza­dos em melhoria da comunidade e precisamos divulgá-los.”

Além disso, afirma que não será candidato, e por isso não seria possível relacionar o aumento de gastos com correios a uma possível candidatur­a.

Em nota, a Câmara Municipal afirma que, “cabe ao vereador a responsabi­lidade pelo conteúdo de suas correspond­ências, já que o sigilo postal é garantido pela Constituiç­ão”. “À Câmara, cabe o controle fiscal e contábil das despesas declaradas”, completa a Casa paulistana.

“[O gasto com o correio] é uma maneira de o vereador se perpetuar no cargo, uma estratégia típica da política tradiciona­l. São gastos exorbitant­es Sandro Cabral professor de estratégia no Insper

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