Sem chuva, nível do Cantareira preocupa vizinhos de represas
O sistema Cantareira deve terminar julho com só 2,5% da média histórica de chuva para o período (48,7 mm) e a preocupação de que a seca atinja o reservatório é grande entre moradores e comerciantes das margens.
O aposentado Marcos da Silva Pinto, 63, vive ao lado da represa Jaguari-Jacareí, a maior do sistema, em Bragança Paulista (a 85 km de SP), onde tem um loteamento. Ele conta que já são três meses sem chuva significativa, o que fez morrer até as mudas de árvores que havia plantado no local.
O que mais o assusta é que o reservatório chegou com nível abaixo do esperado para o início do inverno. “Faltou controlar mais a distribuição, quando choveu.” Ele diz contar com um poço de onde vem a água para seu consumo, mas que teme o desabastecimento longe dali. “Não gostaria de estar na pele de quem mora no 15º andar de um prédio em São Paulo.”
Na represa de Atibainha, em Nazaré Paulista (a 64 km de SP), a apreensão também é grande. “Se continuar assim por mais quatro meses, vai complicar. A gente depende dos clientes das marinas”, diz Rodrigo Lisboa, 21, que divide com o pai um restaurante na rodovia Dom Pedro 1º.
Em um ano, o sistema perdeu água suficiente para abastecer a Grande SP por um mês e meio —23,3% da capacidade desde julho de 2017, caindo de 628 bilhões para 399 bilhões de litros.
Para piorar, as previsões da meteorologia para a primavera não animam. “A temperatura estará entre normal e um pouco acima do normal, o que aumenta o consumo de água. E a chuva entre normal e um pouco abaixo do normal. Tem que ter cautela”, diz o meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) Marcelo Schneider.
Especialista em recursos hídricos e professor de engenharia mecânica da Universidade Federal de Itajubá (MG), Carlos Barreira Martinez afirma que a possibilidade de uma nova crise é real. “Não sabemos se estamos no meio de um ciclo de longo prazo em que as vazões estarão menores”, afirma.
A Sabesp diz ter um sistema mais robusto, com mais interligações e maior capacidade de tratamento de água do que antes da crise hídrica entre 2014 e 2015.
“Foram 36 grandes obras entregues pela Sabesp, além de 1.000 intervenções de pequeno e médio portes nos últimos anos”, diz a companhia —ligada ao governo estadual de Márcio França (PSB)—, que pede ainda que os moradores economizem água.
A gestão afirma ainda que pretende fazer campanha pelo uso racional da água.