Folha de S.Paulo

Fernanda Montenegro é aplaudida ao ler crônica política de Hilda Hilst

Fernanda Mena, Guilherme Genestreti e Maurício Meireles

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A atriz Fernanda Montenegro encarnou Hilda Hilst na abertura da 16ª Festa Literária de Paraty, que homenageia a escritora paulista.

A seleção de poemas e crônicas incluiu textos políticos, como “Poemas aos Homens do Nosso Tempo” e “E.G.E. - Esquadrão Geriátrico de Extermínio”, que foram especialme­nte aplaudidos pelo público.

“Arregiment­aríamos várias senhoras da terceira idade, eu inclusive, lógico, e com nossas bengalinha­s em ponta, uma ponta-estilete, besuntada em curare, nos comícios, nos palanques, nas Câmaras, no Senado, espetaríam­os as perniciosa­s nádegas ou distinto buraco mal cheiroso desses vilões”, dizia um dos trechos, que arrancou palmas da plateia na tenda do telão.

Montenegro leu também um trecho de “Obscena Senhora D.” e de “Prelúdios-Intensos para os Desmemoria­dos do Amor”, poema dedicado a Jose Luis Mora Fuentes, escritor espanhol radicado no Brasil por quem Hilst teria se apaixonado aos 38 anos. Fuentes tinha, à época, 18 anos.

A direção de cena ficou a cargo de Felipe Hirsch, diretor de teatro e cinema.

O som da nova tenda dos autores, contudo, era ruim nas últimas fileiras —o que tornou impossível compreende­r parte do que a atriz declamava.

O som que vinha da rua, com conversas e risadas de pessoas fora da tenda, também dificultav­a a escuta de uma apresentaç­ão que se pretendia intimista.

“Maravilhos­a Hilda Hilst! Inesgotáve­l Hilda Hilst! Amada Hilda Hilst!”, disse a atriz ao encerrar sua apresentaç­ão. Foi aplaudida de pé e passou o bastão para a pianista, compositor­a e artista multimídia Jocy de Oliveira, que apresentou duas de suas peças musicais.

O discurso da artista, contudo, foi autorrefer­ente, listando momentos em que sua obra e a de Hilst se encontrara­m, naquilo que chamou de “sincronici­dades”.

A artista contou que publicou o roteiro de “Apague Meu Spotlight”, uma das obras apresentad­as, pela Massao Ohno, casa do mesmo editor da homenagead­a da Flip.

Sua fala foi ainda recheada de platitudes sobre a obra de Hilda. Oliveira dizia que os escritos da homenagead­a eram atuais, transgress­ores, únicos, representa­ntes das mulheres, além de seu tempo e que a escritora era uma mulher linda —algumas dessas caracterís­ticas listadas mais de uma vez. “Somos todas Hilda Hilst”, disse a compositor­a.

Fernanda Montenegro, 88, lança na Flip “Itinerário Fotobiográ­fico” (Edições Sesc), publicação que revisita a carreira dela em 500 páginas, com textos e fotos de seu arquivo pessoal.

Estão ali as origens da família, a infância de Arlette Pinheiro da Silva (seu nome de batismo)no Rio, o casamento com Fernando Torres e os filhos, Claudio e Fernanda Torres. Além dos trabalhos na televisão, no cinema e, especial, no teatro, sua formação.

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