Folha de S.Paulo

Cruise corre riscos estapafúrd­ios e sem graça

Ator exagera tanto na superação de limites que a brincadeir­a deixa de divertir no sexto filme ‘Missão: Impossível’

- Thales de Menezes

Missão: Impossível Efeito Fallout

(Mission: Impossible – Fallout). EUA, 2018. Direção: Christophe­r McQuarrie. Elenco: Tom Cruise, Rebecca Ferguson, Simon Pegg. 14 anos. Estreia nesta quinta (26)

Quem assiste a uma sessão de “Missão: Impossível - Efeito Fallout” talvez faça uma pergunta: Tom Cruise precisava ter feito mais uma vez o papel do agente Ethan Hunt? Ou, indo além: o mundo precisava de um sexto episódio da franquia “Missão: Impossível”?

Para as questões, a resposta mais honesta é “não”. Desde o terceiro filme, quando Cruise passou a mandar na produção, tratando a série como uma poupança milionária para uma aposentado­ria tranquila, o desafio consiste em criar as situações de perigo mais estapafúrd­ias, mesmo contrarian­do a lógica.

O astro aposta num marketing pessoal que propaga sua predileção por dispensar dublês em cenas arriscadas. Acaba soando como cascata, porque Cruise vale muito dinheiro em Hollywood para conviver com a chance de quebrar o pescoço no meio de uma filmagem, mas os fãs (e a mídia) gostam de acreditar nele.

Ele já foi visto nas telas batendo, apanhando, tomando tiros, pulando fora de explosões no último segundo, pendurado à beira de precipício­s, escalando arranha-céus sem equipament­o ou decolando do lado de fora de um avião.

Para este sexto filme, os perigos foram renovados. Cruise teria até aprendido a pilotar helicópter­os para uma cena de perseguiçã­o aérea. Mas a proposta de superar limites acaba tendo resultado inesperado. Fica tão exagerado que a brincadeir­a perde a graça.

Ethan Hunt exibe força e resistênci­a muito superiores à capacidade humana. Não dá para acreditar em tanto preparo físico. Se fosse um superherói, talvez um Capitão América, o jogo funcionari­a. Para um agente secreto, as proezas soam a uma total estupidez.

Com tantos detalhes para cuidar, Cruise não tem tempo de atuar. O herói é uma caricatura, numa interpreta­ção péssima. E é ameaçado por um colega de elenco. Henry Cavill, o Superman dos filmes da DC, surge como um agente aliado de Hunt e demonstra muito mais desenvoltu­ra como personagem de ação.

O resto do elenco repete os integrante­s que foram sendo agregados à equipe de Hunt, com destaque para ingleses: o engraçado Simon Pegg (o Scott da trilogia “Star Trek”) e a bela Rebecca Ferguson (do sci-fi “Vida”). Os veteranos Alec Baldwin e Angela Bassett têm participaç­ões discretas.

Mas, por melhor que sejam, os atores não encontram muita coisa para trabalhar em suas performanc­es. O roteiro parece gerado por um computador. Não há um traço de humanidade no enredo —espécie de somatória de episódios curtos criados por algoritmos destinados a encontrar os apuros mais absurdos.

Na busca por três núcleos de plutônio roubados por terrorista­s, Hunt vai de Berlim a montanhas no norte da Índia, mas antes vai passar por duas perseguiçõ­es alucinante­s: uma de moto, por Paris, e outra a pé, por ruas, telhados e subterrâne­os de Londres.

Sem se preocupar com exageros, “Missão Impossível” vai deixando os filmes de James Bond até realistas. De olho nas grandes bilheteria­s asiáticas, que representa­m a principal fatia de faturament­o da franquia, vem aí o sétimo filme. Não que o mundo esteja precisando.

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Divulgação Tom Cruise em uma das missões do sexto filme da franquia

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