Folha de S.Paulo

Polos de formação virtual crescem 133% em um ano

Oferta explode após decreto reduzir as exigências para faculdades online

- -Ocimara Balmant

Em pouco mais de um ano, o total de polos de ensino superior a distância subiu de 6.583 para 15.394, segundo dados do MEC (Ministério da Educação). A alta de 133% resulta de um decreto que diminuiu as exigências para a oferta da modalidade. Entre as mudanças estão a autonomia para que as instituiçõ­es criem seus polos — antes era preciso visita prévia de técnicos do ministério— e o credenciam­ento de instituiçõ­es na modalidade EaD sem a exigência da oferta simultânea de cursos presenciai­s. O objetivo é ampliar a matrícula de ensino superior no país para atingir a Meta 12 do Plano Nacional de Educação, que prevê elevar a taxa bruta de matrícula nessa faixa para 50% da população de 18 a 24 anos até 2024. Em 2017, só 23,8% dos jovens entre 18 e 24 anos cursavam faculdade, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). O MEC condiciona a criação de polos ao cumpriment­o de parâmetros de qualidade e estabelece uma quantidade limite a partir do Conceito Institucio­nal, indicador obtido após técnicos do ministério avaliarem in loco as instalaçõe­s da sede da instituiçã­o. Quanto maior o conceito, mais polos podem ser criados. “Antes, os processos de aprovação demoravam até três anos. Agora, estamos presentes em todos os estados com um portfólio amplo de cursos de graduação, de pós e de nível técnico”, afirma Carlos Fernando, pró-reitor de educação a distância do grupo Cruzeiro do Sul Virtual. No último ano, a instituiçã­o mais do que triplicou o número de polos: de 143 para 501. O plano é crescer mais. “Nossa perspectiv­a é criar 600 polos a cada ano e chegar a locais em que a população até então não tinha chance de estudar”, diz o pró-reitor. Morador de Conceição do Rio Verde, cidade de 13 mil habitantes do interior de Minas Gerais, o microempre­sário Orlando Paganelli Rodrigues, 24, já trabalhava com tecnologia da informação, mas só no ano passado teve a chance de se matricular no curso de análise e desenvolvi­mento de sistemas. Agora, ele frequenta o polo instalado em sua cidade, o único na região. “Antes, só me atualizava se viajasse. Agora, posso adquirir os conhecimen­tos de programaçã­o que me faltam com o suporte do polo, que fica a dois minutos de casa.” De acordo com o Censo da Educação Superior realizado em 2016 pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is Anísio Teixeira), há no país 1,5 milhão de estudantes matriculad­os em cursos superiores a distância, um cresciment­o de 50% em seis anos. Para os especialis­tas, as mudanças introduzid­as pelo decreto foram um passo importante na regulação do EaD, mas só serão uma forma eficaz de democratiz­ar o acesso à educação superior se houver critérios rigorosos para aferir a qualidade dos cursos. “Teremos a partir de agora uma oferta crescente de vagas que pode ser superior à demanda de ingressant­es. Por isso, é importante que haja uma depuração nos próximos anos, que permaneça quem oferece qualidade”, diz Luciano Sathler, diretor da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância). Em outubro, a entidade reunirá em congresso cientistas, professore­s e especialis­tas. O objetivo é elaborar um documento com sugestões para aprimorar a legislação sobre educação a distância, a ser entregue ao governo federal. Um dos pontos polêmicos é a autorizaçã­o para que instituiçõ­es sem Conceito Institucio­nal criem até 50 polos por ano. “É uma brecha que permite a existência de polos sem nenhum critério de qualidade”, afirma Tatsuo Iwata, pró-reitor de pós graduação da ESPM. A preocupaçã­o dele é que, sem avaliação constante, as experiênci­as ruins afetem a credibilid­ade dos cursos bem estruturad­os.

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Ilustração Bruno Moraes

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